Os posts estão em ordem cronológica inversa

Todo mundo sabe que só em blogs os últimos serão os primeiros!

 

Nova seção no Diário de Bordo

 

Abri uma seção para as Ilhas Virgens. Pode ser acessada pelo link à esquerda (na barra de navegação).

 

As Virgens Americanas: St. Thomas

 

As Ilhas Virgens Americanas (USVI, na sigla em inglês) foram compradas da Dinamarca em 1916 por vinte e cinco milhões de dólares (que hoje seriam um pouco menos de quinhentos milhões). Na época, ainda durante a Primeira Guerra Mundial, o governo americano avaliava que a posse das ilhas tinha importância estratégica (no sentido militar do termo). É um arquipélago pequeno, composto por três ilhas: St. Thomas, St. John e St. Croix.

 

Chegamos hoje a St. Thomas, depois de deixar Culebra cedo pela manhã e fazer uma travessia tranquila. Ancoramos em frente a Charlotte Amalie, a principal cidade, batizada em homenagem a uma rainha da Dinamarca do século XVII. A cidade é, hoje, um destino de navios de cruzeiro, que despejam mais de um milhão de turistas por ano em suas ruas. É a cidade mais bonitinha onde ancorei neste viagem. A rua paralela à que corre junto ao mar é a do comércio. Uma joalheria atrás da outra. De vez em quando, uma loja de eletrônicos e equipamento fotográfico. St. Thomas é dutie free: os importados não têm impostos. Entre a rua das joalherias e a que margeia a baía (não existe praia, só um cais de ponta a ponta), bequinhos bonitinhos onde não passam carros e as lojas dividem espaço com cafés e restaurantes.

 

Mais, em breve.

 

(St. Thomas, 31/08/2012)



Mergulho em Porto Rico

 

Tivemos de ficar mais uns dias em Culebra para resolver pequenos problemas burocráticos (meu visto de entrada - longa estória) e mecânicos (o motor do dingue ainda não está bom). Aproveitamos para não ir embora sem ter mergulhado em Porto Rico.

 

Fomos até Cayo Luis Pena, uma ilha próxima a Culebra, que tem uma reserva marinha (Reserva do Canal de Luis Pena). O mergulho foi agradável. Vi duas lagostas grandes, uma arraia e uma tartaruga (esta última ainda fazendo snorkelling, antes do mergulho). Infelizmente, o vidro da caixa estanque embaçou e inutilizou quase todas as fotos.

 

(Culebra, 29/08/2012)

Mergulho no Cayo Luis Pena

O dingue também é um barco "a vela"


Agora que tudo está tranquilo e já estou fora do manguezal, pude me dedicar ao motor de popa do dingue. Queria que sempre fosse tão fácil! Troquei a vela de ignição e o motor pegou de primeira. Agora recuperamos a mobilidade e podemos ir e voltar para a cidade sem dificuldade. Bom, porque a previsão é que só seja possível sair daqui para as Ilhas Virgens na segunda-feira. O mar ainda está alto, lá fora, depois da passagem da tormenta.

 

(Culebra, 25/08/2012)

 

Tirando o pé da lama

 

Gastamos umas boas três horas para tirar o Bedouin de dentro do manguezal. Soltar os cabos até que foi fácil. Difícil foi tirá-lo do igarapé. Uma coisa é entrar, de frente, no estreito braço de mar cercado de vegetação, outra é sair, de ré, com o vento ainda forte me empurrando contra o mato. Meu vizinho de ancoragem (o trimaram que estava na minha frente) me deu a dica: "O jeito é ir saindo usando cabos. Quando estiver mais perto da saída, amarre uns cabos bem na boca do igarapé, dos dois lados, puxe o barco para fora, de ré e solte os cabos. Depois você volta com o dingue para buscá-los."

(Culebra, 25/08/2012)

 

 

Não acabou, ainda??!!

 

Quando desmobilizaram o abrigo e anunciaram que não havia mais risco, pegamos as mochilas e as bikes e pedalamos os cerca de cinco quilômetros que separam a cidade do cais onde prendemos o dingue (não muito longe de onde o Bedouin está ancorado).

Chegando lá, tivemos uma surpresa desagradável: o dingue estava no seco e, seja lá quem for que o tirou da água, quebrou a alça onde ficava fixado o cabo de aço que o prendia ao cais. Não é tudo. O motor de popa não ligava. Pode piorar? Sempre pode. Um dos remos tinha desaparecido.


Mesmo dentro da baía, a água estava toda encarneiradinha e ventava muito contra nós. Impossível levar o dingue até o Bedouin com aquele vento e um remo só. Vol'tamo's'para a cidade pedalando. Já era noite, e foi com alguma dificuldade que achamos um quarto para dormir.


Na manhã seguinte (ontem, sexta-feira, 24/08), tomamos café na padaria (pão francês, depois de uma longa ausência no nosso cardápio) e voltamos para o cais do dingue com as bicicletas. Esperamos um pouco e logo chegou uma caminhonete. Saltou de lá um sujeito com dois galões de água nas mãos e dirigiu-se a um dos dingues presos ao cais. O bronzeado não escondia que ele tinha a pele muito branca. Isso, e os olhos claros faziam com que ele não parecesse porto-riquenho (embora, é verdade, Porto Rico tenha uma variedade de tipos físicos muito maior que a República Dominicana, onde todos são pardos, ou as Bahamas, onde todos são negros). Perguntei se ele falava inglês. Ele me respondeu que sim e expliquei minha situação. Perguntei se ele poderia rebocar meu dingue até o Bedouin. Ele me respondeu: "Sem problema".

 

Ajudei-o com os galões. Renato embarcou no dingue dele e eu fui atrás no nosso, separado apenas pelos três metros de cabo usados para me rebocar. Percebi que Renato e nosso benfeitor conversavam, mas não podia ouvir o que diziam, com o barulho do motor de popa. Ele foi abrindo para a direita e afastando-se da direção do Bedouin. Gritei: "The boat is over there, on the left side. The first one in the mangrove. You can see the mast from here". E ele gritou, de volta: "Eu sei, cara. Eu também estou indo para lá". Assim mesmo, em português.


Fernando é português do Algarves, vive em Culebra há dezesseis anos e já passou por muitos furacões. Também tinha enfiado seu veleiro no manguezal, como nós. Levou-nos até o Bedouin e despediu-se nos desejando boa sorte.

 

(Culebra, 25/08/2012)

 



Os amigos podem ficar tranquilos

 

Agradeço a preocupação manifestada por muitos amigos quanto à nossa segurança. Todos podem dormir tranquilos. O perigo passou. Isaac já está longe e não causou prejuízos significativos a Culebra.

 


Novas fotos!

 

Vejam as fotos do abrigo aqui

 

Isaac a cores

 

Por enquanto, não fez estrago nenhum, aqui em Culebra, mas que impressiona, impressiona!

Até aqui, tudo bem

 

Fez frio à noite, mas a tempestade, mesmo, não chegou, e eu dormi bem, dentro das condições. Levantei às sete da manhã e Rosalina e Luz já estavam a postos, prontas para começar a servir o café. O Renato continuava dormindo. Elas me ofereceram um copo de café com leite e eu aceitei.

 

Dei uma olhada na porta. Ventava, mas não chovia. Comentei com o funcionário que tinha me recebido na véspera: "E a tempestade não chegou, né?". Ele me disse que só deveria chegar à tarde, mas que o pior já tinha passado ao sul. Me levou até uma sala onde estavam os computadores e telefone e me mostrou a foto de satélite atualizada. O olho da tempestade já está no mar, ao sul de Porto Rico, mais ou menos sob Ponce. O máximo que pode atingir Culebra, agora, é uma franja da depressão.

 

Renato acordou e juntou-se a nós. Um pouco depois, chegava um policial com um saco de pães e o café foi servido: ovos mexidos com salsicha, suco de uva, cereais de caixinha, pão e café com leite.

 

Aproveito, agora, para atualizar vocês com os últimos acontecimentos (tem wifi no prédio!), sentado na minha cama de campanha. Quando acabar aqui, vou tomar um banho. Dou mais notícias mais tarde.

 

(Refúgio em Culebra, 23/08/2012, as 9:12)



Noite no abrigo

 

Chegamos ao abrigo às nove da noite. O funcionário que preencheu os registros da nossa entrada perguntou se já tínhamos jantado. Dissemos que não. Ele disse: "Tem jantar ali. Vocês podem comer", e apontou um balcão no fundo, à direita, sobre o qual estavam pousadas duas panelas grandes.

 

Fui dar uma olhada nas panelas e Luz e Rosalina, as duas "merendeiras", correram na frente e disseram: "Espera que nós vamos esquentar um pouco para você. A comida deve estar fria". Cinco minutos depois elas traziam a comida, quentinha: arroz com lentilhas, frango desfiado e vagem cozida no vapor. Para beber, Coca Cola. Rosalina disse: "Se quiserem, eu esquento mais comida. Não quero que vocês fiquem com fome!".

 

O abrigo funciona num prédio público, dentro do complexo da Alcaldia (a prefeitura). O salão onde dormimos é grande, contei treze por treze metros. A parede da frente é coberta de espelho, o que sugere que seja usado para aulas de ginástica. Cinco camas de campanha verde-oliva novas (sem uso) já estavam montadas e quinze outras, também novas estavam ainda dentro de suas embalagens de lona, num canto do salão. As funcionárias disseram: "Aquelas duas camas no canto da esquerda são de vocês". Um casal dormiria em outras duas camas, encostadas uma a outra, já com lençol, edredom e travesseiros (eles vieram preparados). Um outro homem já tinha feito sua cama, no lado oposto ao que estávamos.

 

Acomodamos nossas mochilas ao lado da cama e Luz e Rosalina começaram a circular com duas bandejas. Uma tinha um bule com chocolate quente e copos de isopor. A outra, duas cestinhas, uma com cream crackers e a outra com fatias de queijo.

 

O salão onde dormimos estava com o ar condicionado ligado desde cedo e fazia frio. Quando nos preparávamos para deitar, as funcionárias vieram com dois jogos de roupa de cama e dois travesseiros, um conjunto para cada um de nós. A roupa de cama era nova, ainda dentro do saco plástico. Cada jogo tinha dois lençóis de solteiro e uma fronha. Estávamos arrumando a cama, quando elas voltaram com mais dois jogos: "Podem pegar mais um cada um. Está frio, aqui".

 

Eu já estava na cama, mas as luzes ainda estavam acesas (um cartaz na porta de entrada tinha o horário das refeições e dizia que as luzes seriam apagadas às onze da noite). Estava recostado, lendo, coberto com os lençóis, quando as funcionárias voltaram. Desta vez, traziam dois pares de meia, também dentro da embalagem: "Para esquentar os pés de vocês".

 

Eu não sou um desabrigado e, na verdade, nem precisaria estar ali, mas posso imaginar o conforto que é, para alguém que tenha de abandonar sua casa ameaçada pelo temporal, ser recebido por esses anjos que são as funcionárias do abrigo, verdadeiramente preocupadas em garantir que estejamos aquecidos e alimentados. Uma coisa que minha "nova vida" me fez perceber é como existem pessoas boas no mundo.

 

(Culebra, 23/08/2012)



Relatório da Guarda Costeira

 

A Seção Porto Rico da US Coast Guard emite relatórios frequentes pelo rádio sobre a chegado do Isaac. Gravei um trecho do relatório em espanhol e disponibilizei aqui

E vamos nós para o abrigo público

 

Enquanto eu soltava o Bedouin do nosso primeiro refúgio, um policial se aproximou num jet ski. Informou que era muito recomendável que saíssemos do barco, uma vez que ele estivesse bem preso, e passássemos a noite na cidade. Avisou que a prefeitura havia disponibilizado um abrigo e perguntou se eu gostaria de ir para lá. Disse que sim. Ele perguntou quantas pessoas haviam a bordo e pegou nossos nomes.

 

E assim, vamos para o abrigo. Claro que é bom economizar o hotel, mas a verdade é que nosso interesse é mais "jornalístico": a estória fica melhor com uma noite no abrigo de furacão (quando mais teremos esta oportunidade?).

 

(Culebra, 22/08/2012)



E o Isaac vem mesmo...

 

Agora a coisa está ficando mais séria. Acordei pouco antes das sete horas, com o movimento de barcos chegando para procurar refúgio. Liguei o rádio. O Serviço de Meteorologia americano já não tem mais dúvidas que Isaac vai se tornar um furacão. O alerta para as Ilhas Virgens e Porto Rico subiu de tom.

 

Aproveitei que a previsão é de que ele não chegue antes da noite de hoje e resolvi trocar o barco de lugar. Eu tenho uma sonda de profundidade portátil. Parece uma lanterna com um pequeno visor de cristal líquido. É só enfiar uma ponta na água, apertar um botão e ele informa a profundidade do local. Peguei está sonda portátil e levei comigo no dingue, para ver se seria possível entrar mais para dentro do manguezal, como alguns barcos menores haviam feito. Achei um pequeno braço de mar entrando no manguezal como um igarapé, com apenas a profundidade suficiente para o Bedouin entrar quase raspando a quilha no fundo. Um trimaram já estava lá dentro. Os barcos de cascos múltiplos (catamarans e trimarans) tem pouco calado, mesmo quando são grandes. Havia espaço atrás dele para mais um barco.

 

Soltei toda a amarração feita na véspera e tirei as quatro âncoras da água. Muito lentamente, com um olho no caminho e outro no medidor de profundidade, consegui enfiar o Bedouin lá dentro. E aí começou a trabalheira de amarrar o barco ao manguezal: encostar o dingue o mais próximo possível, levando junto a ponta do cabo, equilibrar-se sobre as raízes que ficam acima d'água, desviando dos galhos e espinhos e procurar um tronco mais grosso para amarrar o cabo.

 

Muitas horas depois, tínhamos amarrado o Bedouin ao manguezal em oito pontos, fora as duas âncoras lançadas da proa (veja as fotos aqui). Desmontei os instrumentos e levei para dentro. Tiramos tudo do cockpit e levantamos a cobertura de lona e plástico para diminuir a área de resistência ao vento. Eram quase uma da tarde quando demos o trabalho por terminado.

 

(Culebra, 22/08/2012)



Vigilancia de Tormenta Tropical en Efecto

 

É o que repete a Guarda Costeira pelo rádio, em espanhol e inglês. A cada duas horas, um novo relatório do Centro Nacional de Furacões é divulgado. Há três dias eu acompanho esta tempestade com mais paixão e interesse que o despertado pela Avenida Brasil (até eu, que não assisti um único capítulo e saí do Brasil em março sei o nome de uns personagens). Anteontem ela era uma depressão, no meio do Atlântico, com probabilidade de sessenta por cento de transformar-se num furacão. Ontem pela manhã a probabilidade já tinha subido para oitenta por cento. No fim da tarde de ontem os relatórios falavam de probabilidade próxima a cem por cento. Com o aumento do risco, a tempestade ganhou um nome: Isaac.

 

Como na costa leste de Porto Rico não há nenhum ancoradouro seguro para enfrentar um furacão, achei melhor atravessar para Culebra, uma ilha mais a leste, que já estava no meu trajeto, e que tem alguns bons hurricane holes.

 

Saímos hoje, as sete da manhã, ouvindo a Guarda Costeira dizer para procurar um porto seguro e seguir os procedimentos para imobilizar o barco. Chegamos em Culebra pouco depois do meio-dia, depois de enfrentar um aguaceiro com rajadas de cinquenta nós no meio da travessia.

 

Seguindo o que li enquanto me preparava para a viagem (no Brasil a gente não costuma se preparar para furacões) enfiei o Bedouin com o nariz dentro de um manguezal. Amarrei o barco em três pontos pela proa e lancei duas âncoras pela popa, formando um ângulo de noventa graus. Parece estar seguro. Todos os barcos estão se preparando, os menores entrando bem fundo dentro dos igarapés do manguezal e amarrando-se nas duas margens. Como a expectativa é de que Isaac chegue aqui amanhã à noite, ainda tenho tempo para ajustar os preparativos amanhã.



(Culebra, 21/08/2012)

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Comments

  • Nilton Freitas (Saturday, August 25 12 09:11 am EDT)

    Que bom saber que está tudo bem, primo, ainda melhor saber o quanto está absorvendo dessa "aventura", dormindo em abrigo e percebendo que muitas pessoas (normalmente mais que supomos) no mundo podem
    ser muito melhor que imaginamos só por querer bem às outras, sem qq interesse.
    Permaneça bem.
    Bj, Nilton

  • roberto (Tuesday, August 28 12 09:21 pm EDT)

    Voce ja pode se considerar um mestre depois de tr passado por esta tormenta.
    Estou me preparando para fazer a mesma vigem saindo em novembro. Sua narrativa eh inspiradora. Felicidades!

  • Paulo (Thursday, August 30 12 03:31 pm EDT)

    encontrei seu blog pelo google, estou para fazer essa mesma viagem em novembro próximo. Suas informações revelam-se bem uteis. Pergunto: porque vc decidiu fazer esse trecho nessa época, quando é
    sabido o risco de furacões?
    Abraços e bons ventos (não tão fortes!)

  • Galli (Sunday, September 02 12 10:44 am EDT)

    Alexandre, bom saber que está tudo bem. Siga em frente..
    Forte abs.
    Galli

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Sozinho na ancoragem

 

Uma vez mais, o Bedouin é o único veleiro na ancoragem. Tem sido uma paisagem comum.

 

(Hucares, 20/08/2012)

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Comments

  • Regina Maria Serigni (Wednesday, August 22 12 08:16 am EDT)

    UAUUUUUUUUU!
    Que é isso? Isso mesmo sabedoria e ranquilidade. DEUS lhes deem em abundância os 7 dons: Amor do Pai e do Filho, inspirai-me sempre
    o que devo pensar,
    o que devo dizer, como devo dizer,o que devo calar, o que devo screver,
    como devo agir, o que devo fazer,para obter a vossa glória,o bem das pessoas e minha própria santificação.Amém.

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Arrasta-pé no parque

 

Fim de domingo em Puerto Patillas.

 

As famílias fizeram pique-nique no parque, em frente à praia. Armaram redes entre as pilastras dos quiosques e os troncos das árvores. Cochilaram à sombra. As crianças se acabaram na praia e no play-ground ou simplesmente correram para um lado e para o outro sobre a grama.

 

Escurece. Entre dois dos bares da praia, montaram uma ilha para um DJ, amplificadores e caixas acústicas. É só um terraço de cimento descoberto, mas tocam bachatas e merengues e casais de todas as idades dançam à luz das estrelas. Programa baratíssimo e delicioso.

 

Esse povo sabe se divertir!

 

(Hucares, 20/08/2012)

Puerto Patillas

 

De Salinas, partimos na manhã de 19 para Puerto Patillas. A previsão do tempo estava errada, o vento muito mais forte que o esperado e a saída pela Boca de Infierno meio assustadora com recifes à direita e a esquerda e ondas grandes à frente. Pensei em desistir, mas acabei indo em frente e tudo deu certo. Chegamos em Puerto Patillas pelo meio da tarde.

 

Ancoramos em frente a uma prainha num parque público. Atrás da praia há um gramado com quiosques para fazer piquenique, banheiros públicos, duchas ao ar livre e um playground. Entre o parque e a rua, uma fileira de bares e lanchonetes. Tudo isso numa cidadezinha mínima, que não pode ter mais de dez mil habitantes.

 

Procuramos um lugar com wi-fi e não achamos. Tomamos umas cervejas num bar na cidade e voltamos para a praia quando já estava escuro, mal-intencionados quanto às duchas do parque. No Bedouin, a gente toma banho de olho no consumo de água. Por isso, sempre que possível, tomamos banho em algum lugar nas cidades onde paramos, para poder gastar água à vontade.

 

Não deu outra. Os bares do parque ainda estavam cheios (mais no próximo post) , mas as duchas estavam no escuro e desertas. Como tínhamos levado toalha, sabonete e xampu, tomamos um banho de verdade nas duchas fortes do parque. Coisa de mendigo, né? É. Mas que foi bom tomar um banho com muuuuuita água embaixo das estrelas, foi.

 

(Hucares, 20/08/2012)

Conch Salad

 

Dois dos conch, lambí, carrucho ou lá o nome que tenham em português se foram. Tive  algum trabalho para tirá-los da concha e limpá-los, embora uma meia-dúzia de vídeos no Youtube mostrem como se faz (meu Deus, como era a vida antes da internet?!). Em compensação, escolhi o jeito mais fácil de preparar. A conch salad é feita com cebola e tomate picados, a conch também picada, pimenta vermelha (no Brasil, eu usaria dedo-de-moça) a gosto, picada fina, suco de laranja e limão. E é só. Simples e delicioso!

 

(Hucares, 20/08/2012)

Como juntar Shakespeare e moluscos em um único post

 

Num trecho famoso de Romeu e Julieta, a mocinha diz:

 

"What's in a name? That which we call a rose
By any other name would smell as sweet."

 

Não me atrevo a traduzir Shakespeare. Os meus leitores sabem o que querem dizer estas palavras ou saberão como é possível traduzi-las.

 

Mergulhando em Caja de Muertos, o Renato encontrou um lugar onde havia várias conchas como as da foto. Falei sobre estes moluscos aqui, pela primeira vez num post publicado em Chubb Cay, nas Bahamas, onde eles são chamados de conch. Lá em Chubb Cay eu comi cracked conch, conch empanada. Já contei aqui, também, que adorava a conch salad em Stocking Island, em frente à George Town. Em Provo, Turks and Caicos, provei a Conch Chowder, uma sopa gostosa. Em Luperón e Samaná elas eram conhecidas como lambí.  Aqui em Porto Rico, elas são chamadas carucho. Comemos uma empanadilla de carucho, um pastel, em La Guancha, um lugar super-movimentado onde vários barezinhos se estendem ao longo de um deque de madeira, bem em frente ao nosso ancoradouro em Ponce.

 

Conch, lambí ou carucho. No pastel, como salada, empanada, na sopa. Com um ou outro nome, de um ou outro modo de preparo, o destino delas está traçado... That which we call a conch, by any other name would taste as good!

 

(Salinas, 17/08/2012)

De Ponce à Salinas, passando pelo caixão

 

Depois de uma semana em Ponce (dos quais dois foram passados mesmo em San Juan), nos despedimos da nossa ancoragem em frente a La Guancha e ao Clube Nautico. Foi bom. Aproveitamos a piscina do clube e o banho sem economia de água, lavamos roupa, dançamos na Festa dos Anos 80. Ponce deixará saudades...

 

Fizemos uma parada numa ilha chamada Caja de Muertos (caixão de defunto, em bom português). Apesar do nome, é um lugar lindo. Fizemos snorkelling na ponta leste da ilha e seguimos para Salinas.

 

Chegamos no fim da tarde nesta ancoragem abrigada e bonita, cheia de veleiros e cercada de manguezais. Lembra Luperón.

 

Não fomos à cidade, ainda, mas tomamos banho de graça na marina e aproveitamos para comer e ouvir Michel Teló pela enésima vez nesta viagem. Ouvi "ais se eu te pego" em todos os países por que passei.

 

(Salinas, 17/08/2012)

San Juan

 

Usamos Ponce como base para conhecer San Juan, a capital. Estamos correndo a costa sul de Porto Rico e San Juan fica na costa norte. Por isso, tomamos um carro publico, uma van, que levou a nós e três outros passageiros para Puerto Piedra, um bairro nos arredores de San Juan. A viagem durou só uma hora e meia em uma estrada muito boa.

 

Em Puerto Piedra, tomamos um trem e um ônibus e chegamos à Velha San Juan, a cidade murada. É lindinha, super bem-conservada e charmosa. Fica numa pequena península, cercada por uma muralha e protegida por dois belos fortes dos séculos XVI e XVII. Bares agradáveis, restaurantes transados, muitos turistas, San Juan merece ser vista.

 

Vocês podem ter uma amostra nas fotos aqui

 

(Ponce, 16/08/2012)

 

Ponce

 

Estamos há uma semana em Ponce. É a segunda cidade do país, com cerca de 150 mil habitantes. Ancoramos em frente ao Ponce Yacht Club, que todo mundo aqui conhece como Clube Náutico. A ancoragem é abrigada e usamos as instalações do clube. Até numa festa dos anos 80 nós fomos (aqui no clube).

 

A cidade é bonitinha. Tem esse nome por causa de Ponce de Leon. O conquistador espanhol foi o primeiro governador geral de Porto Rico.

 

Veja as fotos da cidade aqui

 

(Ponce, 16/08/2012)

De mofongos, tostones, assopaos, morir soñando e coisas que tais

 

Ontem jantei assopao de camarones, uma espécie de canja. Assim como a de galinha, mesmo: um caldo com arroz e os camarões boiando. Para acompanhar, podíamos escolher tostones ou mofongo. Tostones são rodelinhas de plátano, uma banana grande, fritas. Os plátanos são comidos ainda verdes e não são doces como os plátanos maduros que se come nos restaurantes cubanos. Uma vez prontos,coloca-se sal neles e come-se como batatas fritas. Mofongo é um purê de plátanos, temperados com alho e bacon. A consistência é mais firme que o purê de batatas.

 

O assopao estava uma delícia. O mofongo é assim, assim. Nem ruim, nem delicioso.

 

Tanto na República Dominicana quanto aqui, se come muito arroz y habichuela. É o arroz com feijão (que, nestas ilhas, nunca é chamado de frijoles). O feijão (habichuela) as vezes leva aipo (para os cariocas) ou salsão (para os paulistas). As vezes leva coentro. Os temperos não são iguais aos do Brasil, mas o feijão é, muitas vezes, delicioso.

 

Fui apresentado ao morir soñando em Luperón, numa casa de sucos. Estava na lista das vitaminas. Perguntei à senhora que nos atendia lá (quase todos os dias) o que era. Ela respondeu: suco de frutas cítricas com leite. Não estava num dia muito corajoso e passei. Preferi dormir soñando, mesmo. Em Samaná, havia uma sorveteria que tinha morir soñando. Desta vez, experimentei. Bem gostoso. O Renato definiu bem: tem gosto de torta de limão (aquelas, com o creme feito de limão e leite condensado).

 

(Ponce, 10/08/2012)



La Parguera

 

Depois de dormir em Boquerón, saímos cedo para El Combate, uma praia próxima. Na ancoragem do Bedouin, nadavam águas-vivas grandes como um antigo LP de vinil (a maioria dos meus leitores é desse tempo). Turistas aproveitavam a praia. Almoçamos num bar na beira do mar e seguimos viagem para La Parguera.

 

La Parguera é uma cidadezinha no fundo de uma baía cheia de recifes, bancos de areia, ilhotas, e outros perigos para a navegação. É preciso uma boa estudada na carta náutica antes de arriscar a entrada. Mas, chegamos lá.

 

É um lugar bonitinho e, mais uma vez, cheio de bares. Muitos turistas vão até lá para conhecer uma enseadinha que se chama Baía da Bio-Luminescência. O lugar tem aquele mesmo fenômeno que não cansávamos de admirar em Luperón: microorganismos em suspensão na água fazem com que ela ganhe um brilho verde fosforescente quando é movimentada, à noite.

 

Passeamos na cidade, tomamos umas Medalhas enquanto colocávamos a correspondência em dia, jantamos e resolvemos conhecer a baía. Embora estivesse escuro, achei que não seria difícil encontrá-la, porque víamos os barcos com turistas saindo para lá a toda hora.

 

Fomos até o Bedouin, colocamos gasolina no motor do dingue, pegamos uma luz de sinalização não sermos "atropelados" por um dos barcos de turista e saímos para procurar a baía. Lembrando: nosso dingue é um bote inflável de fundo rígido com pouco menos de três metros de comprimento e um motor de popa pequeno. Rodamos uma meia hora, na escuridão, sem achar a entrada da tal baía. Nenhum barco de turistas partia ou voltava. Desistimos e voltamos. Quando estávamos chegando de volta ao Bedouin, tive de desviar de um barco que, fora de hora, levava os turistas que iriam se maravilhar na baía enquanto nós nos preparávamos para dormir.

 

 

(Ponce, 10/08/2012)



Boquerón

 

Boquerón é uma pequena cidade de praia não muito longe de Mayaguez. Li que, durante os fins de semana, fica cheia de universitários que vêm da cidade grande para pegar praia, beber e dançar. A cidade é cheia de bares, mas chegamos no meio da semana e a maioria estava fechada. Ainda assim, dá para ver que é um lugar simpático.

 

(Ponce, 10/08/2012)

 

 

Afinal, o que queremos ser: porto-riquenhos ou americanos?

 

Porto Rico tem uma situação política curiosa. Foi colônia da Espanha até o século XIX. Em 1898, os Estados Unidos travaram uma breve guerra com a Espanha, originalmente para apoiar um movimento de independência em Cuba. Como parte dos acordos de paz, a Espanha cedeu Porto Rico e as Filipinas para os Estados Unidos.

 

Porto Rico nunca foi incorporado aos Estados Unidos, da mesma forma que o Havaí e o Alasca o foram, tornando-se estados americanos. Porto Rico foi mantido, a princípio, com um status muito próximo de colônia. Gradativamente, foi conquistando alguma autonomia administrativa e hoje, oficialmente, é um "Estado Livre Associado". Os porto-riquenhos são cidadãos americanos, mas a Suprema Corte dos Estados Unidos já decidiu que isso só lhes assegura os direitos fundamentais de cidadão: eles não têm o mesmo status de um americano da Florida, por exemplo. Porto Rico elege seu governador, mas o Chefe de Estado é o Presidente dos Estados Unidos. Entretanto, os porto-riquenhos não votam nas eleições para Presidente dos Estados Unidos!

 

A situação peculiar de Porto Rico criou um desdobramento curioso: durante muitos anos houve (e ainda há) um forte sentimento nacionalista e um desejo de independência. Com o passar do tempo, entretanto, este desejo começou a conviver com o desejo oposto e hoje uma parte expressiva da população deseja a anexação completa e que Porto Rico passe a ser um estado americano.

 

(Ponce, 10/08/2012)

 

Mayaguez

 

Mayaguez é a terceira maior cidade de Porto Rico. Não tem fama de ser um lugar particularmente bonito ou agradável para parar um veleiro. Entretanto, a chegada a um novo país deve ser feita em um port of entry (que, supostamente, se traduz como "porta de entrada", em português, mas ninguém que eu conheça usa essa expressão): um porto que tenha instalações de Alfândega e Imigração. Mayaguez é o port of entry mais conveniente para quem cruza a Mona Passage, vindo da República Dominicana, porque fica no extremo oeste da ilha.

 

Chegamos lá à noite, como já contei. Depois do susto com a chata que eu confundi com uma luz de sinalização, na entrada da baía, prossegui devagarzinho, tentando interpretar as luzes da cidade e adivinhar onde seria seguro ancorar. A carta náutica não ajudava muito e não havia nenhum outro veleiro visível.

 

Achei um lugar onde não haviam muitas luzes na costa e a profundidade era razoável e baixei a âncora. Minutos depois um barco se aproximou. Era a Polícia. Me perguntaram de onde eu vinha. Pediram licença para encostar o barco deles no meu e me lançaram um cabo. Pendurei duas defensas a boreste e amarrei o cabo em um cunho na proa do Bedouin. Eles encostaram e eu pude ver que haviam dois policiais a bordo. Pediram para ver os documentos do barco e da tripulação. Passei para eles, por sobre a amurada (em nenhum momento eles vieram a bordo do Bedouin). Eles conferiram os papéis e me devolveram, dizendo: "Tudo em ordem. Sejam bem-vindos a Porto Rico. Espero que vocês aproveitem sua estadia aqui". E foram embora.

 

Na manhã seguinte, fomos no dingue até um cais próximo e caminhamos até o porto (na verdade, conseguimos carona com um cubano, na metade do caminho). Lá, demos entrada na Imigração. Como Porto Rico é, formalmente, parte dos Estados Unidos, a Imigração e Alfândega é o Cutoms and Border Protection, que todo mundo que viaja para aquele país conhece, nem que seja só pelos guichês no aeroporto onde somos obrigados a mostrar o passaporte e nos identificam com fotografia e digitais.

 

Cumpridas as formalidades legais, voltamos para o Bedouin e partimos imediatamente para Boquerón.

 

(Ponce, 10/08/2012)

 

La Parguera

 

Depois de dormir em Boquerón, saímos cedo para El Combate, uma praia próxima. Na ancoragem do Bedouin, nadavam águas-vivas grandes como um antigo LP de vinil (a maioria dos meus leitores é desse tempo). Turistas aproveitavam a praia. Almoçamos num bar na beira do mar e seguimos viagem para La Parguera.

 

La Parguera é uma cidadezinha no fundo de uma baía cheia de recifes, bancos de areia, ilhotas, e outros perigos para a navegação. É preciso uma boa estudada na carta náutica antes de arriscar a entrada. Mas, chegamos lá.

 

É um lugar bonitinho e, mais uma vez, cheio de bares. Muitos turistas vão até lá para conhecer uma enseadinha que se chama Baía da Bio-Luminescência. O lugar tem aquele mesmo fenômeno que não cansávamos de admirar em Luperón: microorganismos em suspensão na água fazem com que ela ganhe um brilho verde fosforescente quando é movimentada, à noite.

 

Passeamos na cidade, tomamos umas Medalhas enquanto colocávamos a correspondência em dia, jantamos e resolvemos conhecer a baía. Embora estivesse escuro, achei que não seria difícil encontrá-la, porque víamos os barcos com turistas saindo para lá a toda hora.

 

Fomos até o Bedouin, colocamos gasolina no motor do dingue, pegamos uma luz de sinalização para não sermos "atropelados" por um dos barcos de turista e saímos para procurar a baía. Lembrando: nosso dingue é um bote inflável de fundo rígido com pouco menos de três metros de comprimento e um motor de popa pequeno. Rodamos uma meia hora, na escuridão, sem achar a entrada da tal baía. Nenhum barco de turistas partia ou voltava. Desistimos e voltamos. Quando estávamos chegando de volta ao Bedouin, tive de desviar de um barco que, fora de hora, levava os turistas que iriam se maravilhar na baía enquanto nós nos preparávamos para dormir.

 

 

(Ponce, 10/08/2012)

 

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Comments

  • Simone Brito (Saturday, August 11 12 05:51 pm EDT)

    Olá Alexandre. Tive minhas férias e fiquei muito tempo sem ver seus posts. Agora tomei uma surra de tantos registros escritos e fotográficos. Ufa! Tanta novidade e fotos lindas. As do mergulho são
    fascinantes. Abração, Simone

  • Regina Maria Serigni (Tuesday, August 14 12 12:18 pm EDT)

    nossa este prato do ultimo post deve de ser uma delicia, gostei das explicaçoes e vou tentar fazer algo parecido. obrigada pelos detalhes da foto e do que leva com as devidas comparações daqui do
    nosso cardapio
    Bons ventos para voces

  • Miguel Sauan (Wednesday, August 15 12 09:00 pm EDT)

    Esta história de Porto Rico dá uma idéia... que tal deixar Brasília com os políticos e anexar o resto do Brasil aos Estados Unidos?
    fotos lindas, Alexandre.
    abraços

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Mil milhas náuticas em quarenta ancoragens e quatro cervejas

 

A estória da minha viagem, de Miami até aqui, pode ser contada pelas cervejas que refrescaram meus pores-de-sol (tá bom, Luiz André, é papo de pinguço, mesmo!).

 

Completada a travessia de Miami a Gun Cay, minhas happy hour passaram a ser embaladas por Kaliks (e uma ocasional Sand). Renato juntou-se a mim em Georgetown, ainda a tempo de tomar umas Kaliks em Rum Cay, Clarence Town e em nossas três ancoragens em Mayaguana.

 

Chegamos em Turks and Caicos e as Turks Head tomaram o lugar das Kaliks, nas muitas noites em Grace Bay enquanto o Bedouin estava no estaleiro. Refrescaram as excelentes noites com música ao vivo no Danny's Buoys.

 

O Bedouin ficou pronto (finalmente) e cruzamos para a República Dominicana. Conhecemos a Presidente no bar da Wendy, em Luperón. Boa, como toda cerveja deve ser. Nos acompanhou lá, em Puerto Plata, Imbert, Santo Domingo e Samaná.

 

Um dia, nos despedimos da República Dominicana, sua bachata (espécie de merengue lento, que faz um tremendo sucesso), seus pica pollo (pedaços de galinha empanados e fritos, encontrados esquina sim, esquina não, em qualquer cidade da R.D.). Em Mayaguez, conhecemos a Medalla, cerveja de Porto Rico. Porto Rico já deu ao mundo coisas mais legais: Jennifer Lopez, por exemplo, nasceu no Bronx, em Nova Iorque, mas é filha de porto-riquenhos. Mas não é vergonha perder para a J Lo e a Medalla não faz feio. É uma boa cerveja.

 

(Boqueron, 8/08/2012)



Susto na chegada em Porto Rico

 

Chegamos na entrada da baía de Mayaguez, nosso primeiro destino em Porto Rico, pouco depois das onze da noite. A travessia completava quase vinte e nove horas. Eu estava cansado e tenso - a entrada em um porto à noite é sempre estressante, mesmo um porto que parece fácil (na carta náutica) como Mayaguez. Pela carta eu sabia que, em algum lugar à minha frente, eu deveria encontra uma luz verde - uma dos auxílios à navegação marcando a entrada do porto. Depois de procurar em vão por alguns minutos, finalmente vi a luz verde. Fui me aproximando e tinha a impressão que eu estava sempre "escorregando" para a esquerda em relação a luz. Pensei: "que corrente forte". Virei o leme um pouco para a direita e continuei a aproximação. Quando já estava mais perto vi que a luz não estava numa bóia. Parecia mais uma estrutura metálica fixa. No escuro, pensei que fosse a ponta de um cais. Continuei me aproximando. Quando estava a uns trinta metros, o único barco próximo, que saía da baía, buzinou e o seu piloto gritou alguma coisa para mim. Mais ou menos ao mesmo tempo que eu percebia meu engano, Renato, que estava no deck, para me orientar na entrada, gritou: "É uma chata! Desvia! Desvia!". Acelerei, rodando o leme todo para boreste. A chata ficou para trás, à minha esquerda e eu entrei na baía com o coração a mil e as pernas bambas.

 

(Boqueron, 8/08/2012)