Os posts estão em ordem cronológica inversa

Todo mundo sabe que só em blogs os últimos serão os primeiros!

Mais um capítulo na saga do Bedouin

 

Abri um novo "capítulo" no Diário de Bordo, para contar nossa passagem por Porto Rico. Clique aqui à esquerda, na barra de navegação, para ter acesso aos novos posts.

 

Mona Passage - da República Dominicana a Porto Rico

 

A mais temida das travessias neste caminho de descida do Caribe foi-se sem maiores problemas. Cruzamos a Mona Passage, entre a República Dominicana e Porto Rico, que mete medo em muitos velejadores. Deixamos Samaná no fim da tarde de segunda, por volta das sete da noite. Velejamos durante toda a noite de segunda e todo o dia de terça-feira. Pouco depois das onze da noite, chegávamos à entrada da baía de Mayaguez, cansados mas inteiros.

 

(Boqueron, Porto Rico, 08/08/2012)

Ernesto foi embora

 

Ernesto foi assombrar a Jamaica. Na verdade, já está passando ao sul da Jamaica sem grandes estragos, ao que eu saiba.

 

Assim como ele, tambem "me voy".  Marquei com o Segundo-Comandante dos Portos no cais as 17:40 para que ele inspecione o Bedouin e me de o "despacho", liberando minha partida para Porto Rico.

 

É uma travessia longa, não menos que trinta horas. Saio daqui lá pelas oito da noite, velejo toda a noite, todo o dia de amanhã, a noite de segunda e, se tudo der certo, chego em Mayaguez, Porto Rico, na manhã de quarta-feira.

 

Sempre dá um friozinho na barriga antes da partida e não é diferente desta vez.

 

(Samaná, 6/08/2012)

 

Perfis: mais um episódio da série "pessoas curiosas que encontro pelo caminho"

 

Todos os meus amigos sabem o que eu penso dos argentinos. São uns arrogantes metidos a besta, com exceção dos que eu conheço. Eu tive a sorte de conhecer uma penca de argentinos gente boa, a começar pelo Alejandro, com quem trabalhei enquanto estava na vida corporativa e voltei a encontrar como consultor. (Para quem não entendeu a ironia sutil, eu acho uma bobagem as generalizações do tipo: "os argentinos são arrogantes" ou "os baianos são preguiçosos" - existem diferenças tão grandes ou maiores entre os próprios baianos quanto entre estes e os paulistas, por exemplo).

 

Samaná é uma cidade pequena e provinciana. Até poucos anos, não tinha acesso asfaltado à capital do país. O lugar é tão sem sofisticação que não tem um restaurante realmente transado. Pois bem: existe uma carrocinha perto do cais com um pequeno forninho de barro (daqueles em formato de iglu) e um cartaz que anuncia: "Empanadas Argentinas". Voltando para o barco com fome, uma noite destas, paramos para experimentar as empanadas. O dono é um sujeito na casa dos cinquenta, cabelos encacheados cortados relativamente curtos, camiseta sem manga, cordãozinho de artesanato no pescoço - um herdeiro tardio do movimento hippie. Perguntei: "Você é argentino?" Claro que a resposta foi positiva. Quem, a não ser um argentino, anunciaria que vende empanadas "argentinas" em Samaná?.

 

José Luiz (é esse seu nome) deixou Buenos Aires com a mochila nas costas em 1979, para conhecer o Brasil. Ficou espantado com o clima de liberdade política que se vivia lá, quando comparado com a Argentina. Para quem não lembra ou não era nascido (feliz ou infelizmente, não faço parte de nenhum dos grupos), em 1979 o Brasil era governado pelo General Figueiredo, e, portanto, ainda estava na ditadura militar. Mas desde o fim do governo Geisel, a ditadura vinha fazendo concessões (era a "abertura lenta, gradual e irrestrita") . 1979 foi o ano da anistia aos presos políticos e exilados. Já era possível perceber que a ditadura tinha seus dias contados, embora muitos anos ainda fossem se passar antes que tivéssemos o primeiro presidente eleito diretamente. Não sei dizer como era a Agentina neste mesmo ano, mas José Luiz resumiu assim a diferença entre os dois países: "Na Argentina, não falávamos com policiais nem para pedir informação".

 

José Luiz amou o Brasil e resolveu que queria morar lá. Mas, voltando para a Argentina, conheceu uma mulher que mudou seus planos. Casou, teve filhos, e ficou por lá. Ficou até que os filhos já eram adolescentes e o casamento dele já tinha acabado. Aí resolveu conhecer o Caribe. Como ele disse: "Os argentinos são fascinados pelo Caribe, porque nós não temos exatamente praia: mesmo quando é bonita, a água é tão fria que não dá para entrar". Conheceu Porto Rico, que achou "muito arrumadinho, muito americano". Mas amou a República Dominicana e foi ficando. Mora aqui há quatorze anos. Morou alguns anos em Santo Domingo, a capital, e depois mudou-se para Samaná. Trabalha num projeto de Teatro para o Povo, patrocinado pelo Ministério da Cultura. Ele monta cursos e oficinas de teatro para a população (gente que "em sua maioria nunca entrou num cinema, que dirá assistir uma peça", segundo ele). Depois monta uma peça e excursiona para a capital. Conhece todos os pouquíssimos expatriados ligados às artes, que, como ele, escolheram Samaná para viver.

 

Há poucos meses (na Semana Santa, mais precisamente) montou a barraquinha de empanadas. A freguesia ainda está começando a aparecer. Como ele diz: "O povo de Samaná é muito tradicionalista e não aceita novidades com facilidade. As empanadas dominicanas são fritas e custam a metade do preço e nem todo mundo entende a diferença". Uma pena, porque as empanadas dele são as melhores que comi: massa crocante e cheias de recheio. Mas, como ele disse: "Aqui não tem nem uma padaria que faça um pão decente!". E é verdade!

 

(Samaná, 6/08/2012)

Vai embora, Ernesto!

 

Estamos aqui em Samaná esperando uma tempestade tropical passar, para podermos fazer a travessia para Porto Rico. Ernesto, é o nome da tempestade.

 

A previsão é que se torne um furacão, no seu caminho para o sul dos Estados Unidos. O núcleo da tempestade está passando ao sul de Hispaniola, a ilha dividida entre Haiti e a República Dominicana (vejam a foto do satélite). Mas a "periferia" do Ernesto trouxe chuva e rajadas de mais de trinta nós para Samaná. Na dúvida, agora estou preso ao chão (espero!) por duas âncoras.

 

Acelera, Ernesto! E vai embora daqui rápido!

 

(Samaná, 4/08/2012)

Cascata do Lulu

 

Ontem fomos a outra cachoeira, a Cascata do Lulu. Tentamos um guagua, no mercado, mas este só sai duas vezes para lá, uma no começo da manhã e outra no fim da tarde. Negociamos um motoconcho. Duzentos pesos (cinco dólares) para nos levar lá (três homens numa moto, mais uma vez).

 

A moto estava quase sem gasolina. Morria, vez ou outra. Nas descidas, o "taxista" enfiava uma banguela e, lá íamos nós, em ponto morto ladeira abaixo. Lá pela metade do caminho o asfalto acaba e começa uma estradinha de terra terrível. Cheia de pedras e buracos. Quase caímos, mais de uma vez. Uma aventura, a ida.

 

A cachoeira é bonitinha. Água deliciosa, como sempre: refrescante sem ser gelada. Muito gostoso, no calorão de Samaná.

 

Quando bateu uma fominha, caminhamos até uma birosca na entrada da trilha para a cascata, onde uma senhora preparou na hora galinha e plátanos (banana)  fritos com salada. Cem pesos (USD 2,50) cada um. Uma pechincha , como tudo aqui.

 

Tinham dito para nós que a praia não ficava longe. Resolvemos ir pelo rio. Caminhamos quase uma hora. Quando chegamos à praia, a paisagem era familiar. Era Puerto Escondido! O lugar onde ancoramos no caminho para Samaná, onde dei minhas havaianas para a senhora que fez nossa comida.

 

Duas vezes em uma semana! Sinal de que ele não está se escondendo tão bem assim...

 

Vejam as fotos aqui

 

(Samaná, 4/08/2012)

Fotos! Fotos!

 

Consegui fazer o upload das fotos do Salto del Limón e de El Café

Felicidade

 

Logo depois que chegamos no asfalto, voltando do Salto del Limón, conseguimos uma carona de volta para Samaná, na caçamba de uma caminhonete.

 

Depois de um delicioso banho de cachoeira, de conhecer El Café e sua gente, o vento no rosto em cima da caminhonete, as montanhas da República Dominicana enchendo de verde o meu campo de visão, me lembrei do Jamelão comentando o estado de espírito do presidente Clinton, em visita ao Morro da Mangueira (com todo respeito devido ao Chefe de Estado do país mais rico e poderoso do planeta):

 

- O homem tá feliz que nem pinto no lixo!

 

(Samaná, 31/07/2012)

El Café

 

Na volta do Salto del Limón resolvemos fazer um caminho diferente. Andamos muito mais (saímos no asfalto mais de quatro quilômetros adiante de onde tínhamos entrado), mas valeu a pena.

 

Passamos por um lugarejo chamado El Café. Uma gracinha. Não mais que duas dezenas de casas num vale lindo. Galinhas, burros, cavalos. Mulheres sentadas nas cadeiras do lado de fora. Crianças brincando.

 

E os maravilhosos sorrisos dominicanos!

 

(Samaná, 31/07/2012)

os sorrisos que ilustram o texto são apenas uma pequena amostra - faço upload das fotos assim que tiver uma conexão decente

Salto del Limón

 

Ontem fomos até uma cachoeira, aqui perto de Samaná. Pegamos o guagua para Limón e pedimos para saltar na entrada do caminho para o Salto. Do asfalto à ca hoeira existem duas alternativas: seguir a pé ou a cavalo. Optamos pela primeira para economizar uns trocados. Caminhamos uns quarenta minutos por uma trilha que serpenteava, primeiro morro acima, depois morro abaixo.

 

O Salto del Limon é uma cachoeira de uns trinta metros de altura no fundo de um vale lindo. A água é deliciosa. Muito refrescante numa tade de calor intenso, mas sem chegar a ser gelada de tirar o fôlego, como muitas outras cachoeiras.

 

Uma delícia se arrastar, agarrado às frestas da pedra, até atrás da queda e ver o vale através daquela cortina de água. E descer até a cascata menor (uns sete metros de altura) que fica logo abaixo e deixar a água cair na cabeça e nas costas. Uma massagem e tanto.

 

Recomendo completamente!

 

(Samaná, 31/07/2012)

Samaná

 

Estou em Samaná. Ou Santa Bárbara de Samaná, o seu nome completo, que eu amo, mas ninguém usa. Talvez meu último porto na República Dominicana (devo sair daqui para Porto Rico em alguns dias).

 

Samaná tinha cinquenta e dois mil habitantes no último censo (em 2002). Não tenho idéia de quantos tem hoje, mas continua pequena - embora ganhe de lavada de Luperón no quesito "população". É um lugar simpático, como todos os que conheci neste país, no extremo nordeste da República Dominicana.

 

Cheguei aqui muito cedo (tive de diminuir a velocidade para garantir que entraria no porto com luz do dia). A travessia noturna de Puerto Escondido até aqui foi cansativa, mais uma vez, mas sem incidentes. A entrada de Samaná é surpreendentemente bem sinalizada (para os padrões da República Dominicana) e foi fácil chegar ao porto. Pouco depois das sete da manhã eu baixava âncora, bem em frente ao malecón da cidade. Ajeitei o barco e me enfiei na cama para tirar um cochilo e me recuperar da travessia quando gritaram do lado de fora. Era o barco da Comandancia, que vinha ver meus papéis e dar a minha entrada na cidade. Na República Dominicana é preciso fazer o check-in e check-out em cada porto. Na véspera de sair de Luperón tive de ir à Comandancia de Puertos para avisar que partiria e pegar o despacho até o próximo porto.

 

O procedimento foi rápido e não revistaram o barco. Me pediram dinheiro, mas eu recusei e não houve nenhuma insistência. Na verdade, depois de examinar meu despacho, o oficial disse:

 

- Está tudo certo. Agora as pessoas costumam nos dar um presente (regallo). Se desejares, tu podes nos dar um regallo.

 

Me fiz de desentendido e respondi:

 

- Sinto muito, mas acho que não tenho nada que poderia te dar como presente.

 

Ele respondeu apenas:

 

- OK. Teus papéis estão certos. Se precisares de água ou combustível, ou de qualquer serviço a bordo eu posso providenciar. Conheço tudo aqui.

 

Agradeci e fui para a minha cabine para o merecidíssimo descanso após a dura travessia noturna.

 

(Samaná, 31/07/2012)

 

Mapa do Percurso

 

Atualizei o mapa do percurso. Veja aqui

Puerto Escondido

 

Resolvi consertar logo o que estava quebrado antes de descansar da travessia. Tentei escalar o mastro da mezena usando a cadeira de Bosun, com o Renato me puxando para cima, mas a cadeira emperrou no meio do caminho. Consegui soltar a parte de baixo da cadeirinha e escorregar até que o meu pé tocasse a retranca da mezena. Um pouco mais alto e não sei como desceria. A roldana no topo do mastro da mezena, por onde passa a adriça (o cabo que serve para içar a vela e que eu estava usando para ser "içado" para consertar o gerador), se partiu e a adriça ficou presa - nem para cima, nem para baixo. Tive de ressuscitar o mast climber (falei dele em um post antigo, quando ainda estava sozinho em Highbourne Cay, Bahamas). Subi o mastro usando este "equipamento de alpinismo" e troquei a pá quebrada do gerador de vento, maldizendo o próprio (o vento, não o gerador), cada vez que ele balançava o mastro e me fazia bater nos estais (os cabos de aço que sustentam o mastro). O machucado da minha perna raspava de um lado para outro e eu xingava o vento infeliz, mas acabei conseguindo consertar o gerador.

 

Puerto Escondido seria deserta, se não fosse por uns poucos barcos de pesca, na areia, e quatro barraquinhas de sapê, exploradas pelos pescadores. O Bedouin era o único barco ancorado. Depois que as coisas estavam mais ou menos em ordem a bordo, remamos até a praia (não valia a pena baixar o motor de popa), onde já nos esperava um dos nativos. Comemos um peixe na barraquinha dele, demos uma caminhada na praia, ajudamos os locais a puxar uma rede, dei minhas Havaianas de presente à senhora que preparou a comida para nós (ela me disse que as dela tinham arrebentado). Kátia e Marina me deram uma coleção de Havaianas antes de sair. Um dos pares (o marrom, queridas!) teve um destino nobre e hoje enfeita os pés de uma senhora de Escondido.

 

(Samaná, 28/07/2012)

Sosua - Puerto Escondido

 

Saímos às seis e meia da tarde para Puerto Escondido. A travessia foi muito cansativa. O vento é cruel no contorno do Cabo Macoris e levanta o mar de verdade. Mar alto e vento contra numa travessia noturna são desconfortáveis, para dizer o mínimo e deixam o meu coração apertado de ansiedade. Subir e cair de ondas que sequer estou vendo é uma experiência que não recomendo.

 

Pela primeira vez, desde que deixei a Florida, em abril, passei mal e vomitei. Felizmente, depois fiquei bem. Mas cheguei em Puerto Escondido no começo da manhã, acabado e com estragos a bordo para consertar: um cabo da mestra se soltou de uma roldana e quebrou uma pá do gerador de vento (a segunda - lá se vai minha última sobressalente!).

 

Ancorei numa praia absolutamente paradisíaca em Puerto Escondido (que faz jus ao nome!). Tudo está bem quando acaba bem.

 

(Samaná, 28/07/2012)

Sosua

 

Passamos a tarde em Sosua para fazer a travessia para Puerto Escondido durante a noite. O vento sopra, inclemente, no nariz de quem vai em direção ao leste (meu caso), na costa norte da República Dominicana. Durante a noite, ele dá um alívio (mas ainda sopra mais de vinte nós em torno dos cabos!). Por isso, resolvi fazer a travessia de Sosua à Samaná em dois trechos noturnos, com uma "escala" de dia, em Puerto Escondido.

 

Sosua é muito turístico, com banana boats, muitas barraquinhas coloridas na praia e um barco de fundo de vidro que trazia turistas para o cabeço de coral bem perto de nós (aquele de onde eu soltei a corrente da âncora).

 

(Samaná, 29/07/2012)

Deixamos Luperón...

 

Saímos as seis da manhã de 26/07 de Luperón. Ancoramos perto da hora do almoço em um lugar chamado Sosua, uma praia de veraneio com um hotel bonito e condomínios sofisiticados.

 

Ancorei no fundo de areia, mas o barco correu, com o vento e a corrente da âncora caiu sobre um cabeço de coral de uns dez metros de diâmetro. Como não queria ter de passar sobre o coral para liberar a âncora, mergulhei para soltar a corrente.

 

Meia hora e uns quinze mergulhos em apnéia depois, a corrente estava livre, mas minha canela direita tinha um corte feio feito pelo coral, durante uma das tentativas de safar a âncora.

Novidades

 

Demos outra entrevista para a CBN. Foi ao ar no último sábado e eu esqueci de avisar meus amigos. Ainda pode ser ouvido em

http://cbn.globoradio.globo.com/programas/caminhos-alternativos/CAMINHOS-ALTERNATIVOS.htm

 

Fiz uma excursão (por terra) para Santo Domingo, capital da República Dominicana. Publiquei abaixo minhas impressões. Estou fazendo o upload das fotos (já devem estar lá no momento em que você lê este texto).

De novo!

 

Eu tento fugir deste assunto, mas parece uma obsessão dominicana!

 

Peru Tech, Viagra, Levitra, Cialis. Difícil acreditar que seja só coincidência...

 

(Luperón, 25/07/12)

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Comments

  • Teresa (Thursday, July 26 12 07:32 am EDT)

    Oi Mano,

    Para onde voce esta indo depois de passar em Porto Rico? Qual a direcao que o Bedoin vai tomar?

  • Katia (Sunday, July 29 12 06:40 pm EDT)

    Adoramos Santo Domingo! Antiguinha e simpática. Destaque para a escultura de cavalo. Fica aqui a pergunta: quem compra tanto cabelo.

  • Katia (Sunday, July 29 12 06:47 pm EDT)

    Sem problema! Havaianas é a marca mais democrática que conheço e merece ganhar o mundo. Fica aqui mais uma pergunta: quanto a senhora calçava? kkkkk

  • Claudia Cappelli (Tuesday, July 31 12 07:58 pm EDT)

    Alexandre, tá sensacional te acompanhar!!! Tomara que tenhas internet decente para colocar fotos!!!

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Santo Domingo

 

Santo Domingo foi a primeira cidade do Novo Mundo e a sede do governo colonial Espanhol por muitos anos. Fundada em 1496, quando Cabral não tinha nem chegado ainda ao Brasil, Santo Domingo é a cidade dos "primeiros das Américas" (a primeira catedral, a primeira universidade, ...). Hoje tem pouco mais de três milhões de habitantes e é a capital da República Dominicana e a maior cidade do Caribe (seguida de perto por Havana).

 

Só passei lá um dia e duas noites. Muito pouco para conhecer uma cidade, mas quase sempre suficiente para ter impressões "definitivas" (não é a toa que se diz que a primeira impressão é a que fica).

 

O povo de Santo Domingo (los capitaleños, como se diz aqui) gosta da noite, assim como eu. Passei duas noites lá, a de segunda e terça (tipicamente as mais sem graças, em qualquer cidade). Os bares estavam cheios nas duas noites. Música alta, conversa alta, gente animada. Restaurantes bonitos e sofisticados (fora do alcance do meu orçamento para esta viagem). Bares com decoração transada. Muitas mesas só com mulheres (elas saem sozinhas direto em Santo Domingo).

 

O centro histórico (la zona colonial) é uma gracinha. Dá para fazer a pé em uma manhã, mas as edificações são bonitas e bem conservadas. Lembra a Espanha, às vezes, por razões óbvias. Colombo é onipresente (ele e sua família viveram aqui por anos).

 

Apesar de ter voltado a me sentir turista (os guias nos abordavam o tempo todo, os motoristas de táxi tentavam nos explorar), sensação que não existe em Luperón, adorei minha breve passagem por Santo Domingo (fotos aqui),

 

(Luperón, 25/07/2012)

Cabelos, cabelos, cabelos

 

No nosso caminho à pé para o hotel, passamos por um lugar muito curioso (vejam as fotos aqui). Um monte de banquinhas de camelô que vendiam... cabelo! Mechas de cabelo de todas as cores, espessuras e jeitos (lisos ou cacheados). Entre as ruas Caracas, 19 de Marzo e Av. México o comércio é todo de cabelos. Algumas lojas anunciam: "La Plaza del Pelo". Os salões avisam que fazem apliques (extensiones) e existe até uma escola que ensina a fazê-los.

 

De onde surgiu essa obsessão?

 

(Luperón, 25/07/2012)



Matando tempo em grande estilo

 

Está difícil conseguir uma janela de tempo para fazer a travessia para Samaná (o vento insiste em soprar de leste com vinte nós e o mar chega a oito pés de altura). Por isso, resolvemos conhecer Santo Domingo, a capital da República Dominicana.

 

Pegamos um ônibus (com poltronas confortáveis e ar condicionado) em Luperón, à uma e meia da tarde. Tocaram música alta quase a viagem inteira (duas horas de intervalo, como veremos adiante). Enquanto a música tocava, nosso dublê de cobrador e cantor acompanhava, cantando alto, de tempos em tempos. Uma figura. As três da tarde chegamos a Santiago, a segunda maior cidade da República Dominicana. Fizemos uma parada de uns vinte minutos (banheiro, lanche rápido, gente que deixa o ônibus e gente nova que entra).

 

Quando retomamos a viagem e saímos de Santiago, o cobrador cantante colocou um DVD para tocar e os passageiros tiveram o prazer de acompanhar o filme nos monitores presos ao teto do ônibus. O que é mais engraçado que o Jean Claude Van Damme com um jeans de cós muito alto, cabelo num corte muuuito datado (lembra o que o Júnior, irmão da Sandy, usava quando era garoto), fazendo cara de mau? O Jean Claude com esta calça, este cabelinho, cara de mau e falando espanhol. Risível.

 

Quando o filme acabou, estávamos chegando em Santo Domingo. Avenidas grandes. Muito tráfego às quase seis da tarde, carros novíssimos misturados a latas-velhas caindo aos pedaços (Luciano Hulk precisa passar por aqui). Pouco depois das seis, caminhávamos a pé rumo ao nosso hotel, na Zona Colonial, a região histórica de Santo Domingo.

 

(Luperón, 25/07/2012)

Comments

Discussion closed
  • Manoel Abritta (Neco) (Wednesday, July 18 12 10:35 am EDT)

    Alexandre, quando você voltar para o Brasil, já está contratado para ser o mecânico exclusivo do Rebecca Blue. Grande abraço, comandante .

  • Virginia Almeida (Monday, July 23 12 09:42 pm EDT)

    Alexandre, isto tudo dá um filmaço! Nossa! É muita emoção

  • Reginaldo (Tuesday, July 24 12 02:22 pm EDT)

    Alexandre

    Sensacional Luperon, vou incluir em meus objetivos de lugarem a serem conhecidos !!!!

    Reginaldo

Ancoragem

 

Quando acordo, em Luperón, essa é a paisagem vista da porta da minha casa. À noite, este mesmo céu é coalhado de estrelas e a marola que bate no casco do Bedouin se transforma em luz verde-fosforecente.

 

Um luxo só.

 

(Luperón, 18/07/2012)

Nosso escritório em Luperón

 

O interior do Wendy's. Mais simples, impossível.

 

Mas quem precisa de mais?

 

(Luperón, 18/07/2012)

Wendy's

 

Não poderia encerrar as "crônicas de Luperón" sem falar da Wendy e do seu bar. O bar da Wendy é o mais perto do cais onde amarramos o dingue. O primeiro onde passamos quando chegamos à cidade, o último quando voltamos para o barco. Por essa localização geográfica privilegiada, porque tem wifi de graça (que me permite atualizar o site e ligar para a Kátia por skype), porque a cerveja é barata e gelada e a comida barata e gostosa e porque Wendy e sua família são muito simpáticas, o lugar virou nosso escritório em Luperón.

 

Nas noites de segunda e terça Wendy promove uma sessão de "cinema" no bar: aluga um DVD em inglês e exibe o filme numa TV de cinqüenta polegadas, presa no teto. A pipoca é de graça, e distribuída entre os expectadores pela Wendy e sua sobrinha Sheila. O cineminha faz o maior sucesso entre os cruzeiristas. Ontem teve o Capitão América. Anteontem, The Mechanic (não sei como passou no Brasil), com cachorro quente de graça!

 

Na foto, eu estou com a própria Wendy, o filho dela, de quatorze anos e a sobrinha, de dezoito. O filho vive em Orlando e está aqui de férias. A sobrinha faz faculdade em Port Rico. Eles falam inglês perfeitamente e ajudam a atender os "gringos".

 

(Luperón, 18/07/2012)



O feitiço­­­­ de Luperón

 

O que faz estrangeiros com estórias, idades e perfis tão diferentes se apaixonarem por esta cidadezinha pobre e feiinha e a escolherem como lar?

 

Richard, o vizinho de ancoragem que me ajudou logo na chegada tumultuada (com problemas no motor, guincho de âncora e gerador de vento), é de Nova Iorque, está na casa dos sessenta, e mora na República Dominicana há quatorze anos. Continua por aqui, apesar de ter perdido cento e quarenta mil dólares comprando terras de um golpista, que não tinha direito sobre as mesmas. Montou um negócio de refrigeração e prestava serviço para uma rede de supermercados dominicana. Depois de desentendimentos com o sócio, passou adiante o negócio e hoje vive num catamaram na baía de Luperón e faz bicos como eletricista nos barcos que aqui chegam além de dar aulas para as pessoas que pretendem se tornar cruzeiristas.

 

Travis tem só vinte e nove, e a primeira coisa que disse quando nos conheceu foi: "Brasileiros! Que legal! Eu tenho família no Brasil!". A "família" são um rapaz e duas moças que, em épocas diferentes, a família de Travis hospedou como estudantes brasileiros fazendo intercâmbio nos Estados Unidos. Gente boa até não poder mais, Travis conheceu Luperón como tripulante de um veleiro, anos atrás. Voltou depois a Nova Iorque, onde vivia sua família, comprou um veleirinho de vinte e sete pés por inacreditáveis quinhentos dólares e o trouxe, sozinho, até aqui. Já está na sua segunda namorada local e ganha algum dinheiro como mecânico de motores de popa. Seu plano é tentar ganhar a vida em Luperón e ficar por aqui. Se não der certo, tentará a mesma coisa no Brasil.

 

Doug está na casa dos setenta e mora em Luperón há quatorze. Num barco, por algum tempo, mas há muitos anos na casa que ele mesmo construíu aqui. Nasceu no interior do Canadá. Já velejou muito por esta região: Bahamas, Cuba, Jamaica. Um dia deu com os costados em Luperón e descobriu que gostava do lugar (as chicas são bonitas, diz ele) e que sua aposentadoria rendia muito aqui, onde, me contou ele, mil e quinhentos dólares dá para viver com conforto. "E não tem imposto de renda! No Canadá, quarenta por cento do que eu ganhava ia para o governo". "Mas o governo do Canadá devolve boa parte disso em bons serviços, não? O sistema de saúde, por exemplo, deve ser melhor que o daqui", provoquei. Ele me respondeu: "Claro que sim. Só que aqui, quando os garotos têm qualquer problema eu ligo para o médico, ele passa lá em casa e não cobra nada. Eu dou quinhentos pesos para cobrir pelo menos a gasolina dele e é tudo".

 

Ralph é alemão e vivia em uma cidade pequena a duzentos quilômetros de Frankfurt. Veio para Luperón, a convite de uma garota local que conheceu na Alemanha através de um amigo, para passar três semanas. Está aqui a quatro anos e meio. É mecânico de motores a diesel e casado com a ex-dona do Upper Deck, o bar onde nos encontramos esta manhã, antes dele consertar o sistema que desliga o motor do Bedouin. Ele me diz que a vida é fácil, aqui, para quem recebe dinheiro de fora, mas não para alguém como ele que tem de ganhá-lo no mercado local. Mas não parece ter nenhum plano de ir embora tão cedo.

 

Algumas pessoas fazem um sucesso com o sexo oposto que não parece ser explicado por nenhum de seus atributos visíveis. Mistério... Em alguns lugares do Brasil, diz-se dessas pessoas: "Fulano(a) tem borogodó!".

 

É isso aí: Luperón tem borogodó!

 

(Luperón, 17/07/2012)

O motor funciona bem, novamente!

 

Depois de três dias desmontando e remontando o sistema de refrigeração do motor do Bedouin, parte por parte, consegui consertar o problema do super-aquecimento que nos obrigou a entrar no ancoradouro em Luperón só na vela (adrenalina pura!).  Agora sou um especialista em refrigeração de motores diesel Yanmar.

 

Minhas mãos parecem as de um mecânico. Por mais que eu esfregue (comprei até uma escovinha), as unhas nunca ficam totalmete limpas, mas, não posso negar, estou orgulhoso pra caramba das minhas recem-adquiridas habilidades!

 

(Luperón, 16/07/2012)

Como diz a Cláudia: a propaganda é a alma do negócio


(fotografado em Puerto Plata, em 14/07/2012)

Chão de estrelas

 

Chovia, na quinta à noite, quando chegamos ao cais para pegar o dingue. As gotas de chuva que caiam na baía de Luperón provocavam a luminescência que qualquer movimento na água, aqui, provoca. O mar estava cheio de pontinhos luminosos verdes. Orestes Barbosa teria dito que a chuva "salpicava de estrelas" a baía de Luperón.

 

(Luperón, 15/07/2012)

 

Moto concho

 

Tanto em Luperón quanto em Imbert ou mesmo Puerto Plata, que tem mais de cem mil habitantes, o meio de transporte mais comum é o moto concho, as motocicletas que funcionam como táxi.

 

Até aí, nada de mais. Elas existem em muitos lugares do Brasil, também. Engraçado é terem dois conjuntos de pedaleira de "carona" e carregarem, frequentemente, três pessoas.

 

Compramos uma bateria nova para o Bedouin no supermercado La Sirena (a sereia) em Puerto Plata. Na saída, pegamos um moto concho até a parada do ônibus para Imbert. Isso mesmo: um moto concho. Três homens e uma bateria que deve pesar uns dez quilos, tudo em cima de uma moto de cento e vinte e cinco cilindradas. E Puerto Plata é, eu acho, a quarta cidade da República Dominicana, em tamanho.

 

(Luperón, 15/07/2012)

O baile funk de Luperón

 

Na sexta à noite demos um pulo na cidade e perguntamos onde ficava o movimento. Nos indicaram um lugar a uns dez minutos de caminhada. Na porta estava escrito: Viernes Playera (sexta-feira praieira). Era um bar relativamente pequeno, com música local que se ouvia à distância, três degraus acima do nível da rua. Dos três degraus escorria uma enorme quantidade de água. Uma pequena cachoeira desaguando na calçada. Dentro, um salão de, talvez, cinco metros de profundidade por sete de largura. Quase todo ocupado por uma pista de dança (umas poucas cadeiras em torno, praticamente só homens sentados nelas). No fundo, um balcão onde se comprava bebida era o único lugar iluminado - não havia garçons. Decoração inexistente. Tudo muito simples, chão de cimento com vermelhão coberto de água, a estrutura de madeira e as telhas visíveis do salão, apesar da pouca luz. Mas o melhor estava no centro da pista de dança.

 

Um cano furado fazia "chover" num retângulo de um metro e meio por dois metros, no centro da pista de dança. Embaixo do "chuveiro", meninas com blusas de alcinha, shorts minúsculos, rebolavam encharcadas. As meninas não eram performers ou dançarinas profissionais. Eram só as frequentadoras do lugar. Só mulheres, competindo entre elas, para ver quem fazia a dança mais sexy e provocativa, enquanto se refrescavam do calor do cão que faz em Luperón, mesmo à noite.

 

Dizer que era muito curioso é pouco. Mas não era nada substancialmente diferente do que se vê num baile funk no subúrbio ou em um morro do Rio.

 

Pancadão em Luperón.

 

(Luperón, 15/07/2012)

Peixe-cometa

 

A água da baía de Luperón apresenta aquela fosforescência, à noite, que todos já devem ter visto algum dia na vida. Tudo o que se movimenta na água gera um luz branco-esverdeada claramente visível na noite de tão poucas luzes artificiais desta cidadezinha.

 

Quando vamos passear na cidade, deixamos nosso dingue amarrado num pequeno cais de madeira, perto do qual ficam as instalações da Alfândega, Imigração, Agricultura e Turismo. À noite, quando voltamos, as repartições estão fechadas e praticamente não há luz no cais. No meio da baía, só a que as estrelas providenciam. O dingue corta a baía como um cometa, deixando atrás uma longa cauda de luz. Se enfiamos a mão na água, produzimos um risco verde luminoso. É lindo.

 

Mas o melhor de tudo são os peixes. O dingue se movimentando faz com que os peixes em volta nadem rapidamente em todas as direções. Não dá para ver os peixes, mas sim o risco de luz que eles traçam no mar, como estrelas cadentes. Deslumbrante.

 

Uma canção americana, lançada há poucos anos, diz: "Can we pretend that airplanes in the night sky are like shooting stars? I can really use a wish right now!". Pois é, aqui dispensamos as estrelas cadentes e mesmo os aviões. Com muita licença poética, é possível fazer um desejo à visão de peixes estrela-cadente.

 

(Luperón, 12/07/2012)

Fotos de Imbert

 

Disponibilizei as fotos do nosso passeio até Imbert, cidade próxima de Luperón, aqui

 

(Luperón, 13/07/2012)

Novidades

 

Além das fotos de Luperón, que você pode ver aqui (algumas, novas, disponibilizadas hoje), publiquei a estória da nossa partida de Turks and Caicos e chegada à República Dominicana. Com emoção, como têm sido as últimas travessias.

 

(Luperón, 11/07/2012)



... Tinha uma pedra no meio do caminho

 

Nossa ida para Imbert no guaguá foi interrompida por um engarrafamento. Os carros haviam parado para que um cortejo de enterro cruzasse a pista, com o caixão sendo carregado sobre os ombros.

 

E nada mais precisa ser dito.

 

(Luperón, 11/07/2012)

Imbert e o guaguá

 

Hoje tomamos um guaguá que, por sessenta pesos (pouco mais de um dólar) cada um, nos levou a Imbert uma cidade a vinte e cinco quilômetros daqui de Luperón. O guaguá seria chamado de van no Rio e de perua em São Paulo. Para quem mora em qualquer outro lugar, é uma van que cobra um preço fixo por passageiro, pára em qualquer lugar do seu trajeto (não tem pontos fixos) e anda quase sempre lotada (a que nos levou chegou a ter treze pessoas dentro).

 

Imbert é uma cidade maior que Luperón (mais de vinte mil habitantes, contra os doze do lugar onde estamos ancorados), e também feia. Mas de uma feiura menos singela e graciosa que a de Luperón, que me cativou imediatamente. Ao contrário do que dizia o Vinícius (estou me especializando em contradizê-lo) beleza não é atributo essencial nem para mulheres. Mas há que compensar sua ausência com charme, simpatia, inteligência, generosidade ou lá o que seja (escolha a sua qualidade favorita). Luperón é feiinha, mas é uma gracinha. Imbert é apenas feiinha. Mas o povo da República Dominicana é definitivamente simpático.

 

(Luperón, 11/07/2012)

Pondo a casa em ordem

 

Ontem (terça-feira, 10/07), pela manhã, consertei a bomba de porão e troquei a pá do gerador que havia quebrado.

 

Hoje, consertei o guincho da âncora.

 

Agora só restam os problema com o motor...

 

(Luperón, 11/07/2012)

Check-in

 

É comum ouvir comentários entre velejadores americanos sobre a corrupção nos oficiais que liberam sua entrada na República Dominicana. Que eles pedem "uma cervejinha", as vezes exorbitante. Que, se você já não tiver a bandeira de cortesia, te empurram uma por um valor absurdo. Está em qualquer fórum de discussão de cruzeiristas na internet. Voltei a ser alertado duas vezes, aqui mesmo em Luperón, a última delas pelo casal em um barco vizinho quando já estava no dingue, com a pasta de documentos na mão, indo fazer o check-in. Pois eu não tive nenhum problema.

 

É burocrático. O trabalho que nas Bahamas foi feito por uma só pessoa e em Turks and Caicos ocupou dois oficiais, demandou, aqui, quase uma dezena. Passei no "Departamento de Turismo" e tirei duas Carteiras de Turista (dez dólares cada - preço estampado na própria carteira). Depois, fui à Migración (porta ao lado). Mais formulários. Sessenta e três dólares. Cinquenta e três pelo primeiro passageiro do barco e dez por cada adicional. Com recibo, carimbado e assinado. Quando terminei, dois rapazes da Comandantería me esperavam para ir inspecionar o barco. Não tinham nem trinta anos e estavam a paisana, mas pelo menos um deles estava (discretamente) armado. Pensei: "A mordida virá agora". Nada. Olharam o barco com fingido rigor (me pediram para abrir vários compartimentos e gavetas, mas claramente confiando que não iam encontrar nada). Me perguntaram se trazíamos armas de fogo e se já tínhamos a bandeira da República Dominicana. Respondi "não" às duas perguntas. Disseram: "Se você quiser, conhecemos um sujeito que vende a bandeira". Agradeci e disse que compraria na cidade. ­­Anotaram os dados do barco e os nossos e disseram: "Isso é tudo". Levei-os de volta ao cais, no meu dingue e me despedi. Não me pediram nada. Não tomaram nem uma cerveja no barco, o que também se diz que é de praxe.

 

Na manhã seguinte, ainda tive de ir a duas outras "repartições" que já estavam fechadas na véspera: a Autoridade Portuária e a Agricultura. A primeira me cobrou vinte dólares pelo uso do porto (com recibo) e a funcionária da segunda outros dez dólares e pediu para tirar uma foto com o Renato. Foto que ela não tem, é claro, porque está no cartão da minha câmera.

 

Resumindo, cento e treze dólares, tudo oficial, tudo com recibo. Foram trezentos nas Bahamas e seriam cento e cinquenta em TCI (por que "seriam"? longa estória, conto depois). Burocrático, mas honesto e com valores razoáveis. Será que eu tive sorte ou parte desta lenga-lenga com a República Dominicana é preconceito com um país pobre e que fala espanhol, o próprio estereótipo da "república das bananas"?



(Luperón, 10/07/2012)

Inventário

 

Problemas que haviam sido resolvidos e voltaram a aparecer e problemas novos também relacionados à entrada de água no barco em Tuks and Caicos:

 

- a água salgada não circula e o motor super-aquece

- o botão de parada do motor não funciona

- o guincho de âncora não funciona

- uma das pás do gerador de vento está quebrada

- a bomba de porão da proa não está ligando automaticamente (mas funciona, quando ligada manualmente)

 

(Luperón, 11/07/2012)

Entrando no porto sem motor

 

Me aproximava de Luperón e planejava a entrada na enseada sem motor. Teria de entrar na vela. Estudei a carta. Entrada do canal rumo sul. Canal estreito, com recifes à direita, marcado por duas bóias. Curva à direita (oeste). Curva à esquerda (sul de novo). Achar um lugar no ancoradouro. Tomara que não hajam muitos barcos ancorados...

 

Sempre faço a entrada nos portos no motor, que permite muito mais controle. Baixo as velas e solto o gancho que prende a âncora ainda do lado de fora do porto e entro devagarzinho. Acho um lugar e, no botão que fica atrás do leme, faço a âncora baixar. Não seria tão simples desta vez.

 

Me aproximei do canal com todo o pano em cima, fazendo seis e meio a sete nós. Entre as bóias, enrolei o jib, minha vela de proa e folguei um pouco a mestra e o staysail. O barco se arrumou (ficou reto, novamente) e a velocidade diminuiu um pouco. Fiz a curva a direita. Fiz a curva a esquerda e meu coração apertou. Dezenas de barcos ancorados. Pelo menos uns cinquenta. Fui desviando de um e outro, tentando achar um caminho. Testei o guincho da âncora. Nada! Aí sim, gelei. Gritei para o Renato, que estava na proa: "O guincho de âncora não está funcionando. Solta a corrente e deixa o ferro cair quando eu avisar". Renato demorou o que pareceu uma eternidade para soltar a corrente do guincho. Virei para o vento e gritei: "Solta a âncora agora!".

 

A âncora demorava demais a descer. O barco continuava andando em direção a outros. Liguei o motor e engatei a ré. Pensei: "ligo só um pouquinho e desligo antes de superaquecer". O barco continuava rápido demais. Soltei a mestra completamente a retranca balançou para um lado e para outro e um cabo agarrou no gerador de vento (um catavento preso ao mastro da mezena que gera energia elétrica). Pelo menos o barco parou. Apertei o botão para desligar o motor. Ele não desligou. Mais um problema que supostamente havia sido consertado e voltava a aparecer. Corri para a frente para ajudar o Renato a jogar mais cabo de âncora para fora. O motor pode esperar um pouco. Largamos mais uns quinze metros de corrente. O barco vibrava loucamente e fazia muito barulho. Aquilo não podia ser só o motor. Olhei para a trás. O mastro da mezena balançava de modo frenético. Uma das pás do gerador de vento tinha quebrado. Ele estava desequilibrado e fazendo tudo vibrar. Pedi ao Renato para pegar um croque (um gancho de ancoragem) e tentar para o gerador. Ele conseguiu. Desci para tentar desligar o motor.

 

Em algum momento, no meio desta confusão, um barquinho se aproximou com um homem a bordo. Ele gritou: "Estou vendo que vocês estão com problemas. Posso subir a bordo?". Claro que sim. Ele me ajudou com a corrente da âncora. Ajudou a imobilizar o gerador de vento de forma definitiva (Renato o amarrou com um cabo) e tentou, sem muito sucesso, desligar o motor, o que eu acabei conseguindo fazer, depois de várias tentativas.

 

Nunca tivemos uma entrada num porto tão atribulada e nunca a cerveja para comemorar a ancoragem foi tão merecida e apreciada!

 

(Luperón, 11/07/2012)

Terra à vista

 

Quando começou a clarear, pouco antes das seis, foi possível ver as montanhas de Hispaniola no horizonte. Nas Bahamas ou em Turks and Caicos, ilhas baixas, "Terra à Vista" significava ver uma nesga cinza que se elevava uns centímetros acima da linha do horizonte. Aqui o que eu via eram montanhas de verdade, altas, imponentes, destacando-se do mar sem nenhuma timidez e não dando margem a dúvidas. A terra estava mesmo alí.

 

(Luperón, 11/07/2012)

Velejada noite a dentro

 

Pela primeira vez, vararia a noite velejando. Foi tranquilo, mas cansativo. Renato enjoou muito nesta travessia e, depois de vomitar algumas vezes, desceu e desmaiou na sua cabine. Fiquei sozinho no cockpit e não tive coragem de pedir a ele para me render hora nenhuma. Passei a noite inteira entre cochilos curtos e despertares assustados. Abria os olhos. O vento continuava na mesma direção. As velas estavam em ordem. O piloto automático continuava funcionando. O Bedouin continuava no rumo. Nenhum outro barco no horizonte. Bedouin firmemente adernado para boreste. Eu estava deitado do lado direito do cockpit (do outro lado eu cairia) e bastava olhar para a direita para ver o mar passando quase ao alcance da mão.

 

Apesar da tensão e do cansaço, houve um momento na noite em que eu saí do cockpit. O vento batia no meu rosto, junto com borrifos de água do mar. Só ouvia as ondas batendo no casco e o barulho das velas (eu velejava no ângulo mais fechado contra o vento que eu podia, e elas panejavam de vez em quando). O céu estava completamente estrelado. Muito mais estrelas do que é possível ver em São Paulo ou no Rio na noite mais bonita do ano.

 

É bom estar vivo.

 

(Luperón, 11/07/2012)

Problemas, de novo

 

Cerca de cinco e meia da tarde. Nos aproximávamos de Big Sand Cay, uma ilha desabitada, a última antes da travessia do Mouchoir Passage, o mar que separa Turks and Caicos de Hispaniola, a grande ilha que é dividida entre o Haiti e a República Dominicana. Nossa intenção era ancorar atrás da ilha por algumas horas. Fazer o jantar, comer e descansar um pouco. Já à noite, partiríamos para Luperón, para chegar lá na manhã seguinte.

 

Quando a ilha estava exatamente a barlavento, ou seja, entre nós e a direção de onde vinha o vento, liguei o motor para fazer a aproximação. Menos de cinco minutos depois, um alarme disparou no painel. O motor estava superaquecendo. Pedi ao Renato para olhar o escapamento. Só saíam os gases do motor, nenhuma água. Era o que eu temia.

 

A maioria dos barcos é refrigerada por uma associação de água doce e salgada. A água doce (misturada a um líquido refrigerante) circula através do motor. Esfria o motor e se aquece, como acontece em um carro. Num carro, ela iria então para o radiador, onde o vento que passa esfria a água que recomeça seu ciclo. Um barco não tem ar fresco passando no compartimento do motor. A água doce é refrigerada passando em uma serpentina que circula dentro de água do mar que é bombeada para um trocador de calor. Assim, é preciso que a água do mar circule para que o motor não super-aqueça. É esta água que nós vemos sair junto com os gases de escapamento em qualquer barco.

 

Um dos muitos problemas que eu tive, depois que o motor foi alagado no nosso quase naufrágio foi que a água salgada deixou de circular. Só que este problema havia sido, supostamente, solucionado no estaleiro. De mais a mais, tínhamos motorado por mais de seis horas sem problema algum, com água circulando normalmente. Bem, de um jeito ou de outro o problema estava de volta.

 

Desliguei o motor. Parar atrás da ilha, com o vento exatamente contra, seria demorado e cansativo. Dificilmente eu conseguiria resolver o problema do motor sozinho, e não há ninguém em Big Sand Cay. Resolvemos partir direto para Luperón, sem motor mesmo. Seguimos no contravento, com rumo sul e vento de sudeste, o Bedouin bastante adernado para boreste, o mar lambendo o corredorzinho no convés que passa pelo lado direito do barco, entre o cockpit e a proa.

 

(Luperón, 11/07/2012)

Velejando

 

A travessia do Caicos Bank foi feita toda no motor, só com a vela mestra em cima e o vento quase no nariz. Quando saímos do banco, uma pequena mudança de ângulo no nosso curso (mais para sul) foi suficiente para velejar. Subimos todos os panos, desliguei o motor e seguimos só na vela.

 

(Luperón, 11/07/2012)

Partida para República Dominicana

 

Acordei quinze para as seis e ouvi a previsão do tempo. Vento leste, 10 a 15 nós, ondas de três a cinco pés. Subi a âncora e as seis já estávamos a caminho. A travessia do Caicos Bank, as primeiras seis horas de viagem (ou pouco mais), foram sem incidentes, mas com emoção. O banco é raso (de três a seis metros) e a água clara deixa ver as manchas marrons que significam coral no fundo. A imensa maioria está realmente no fundo, bem abaixo da quilha do Bedouin, mas não há como saber ao certo (a não ser que se confie cegamente na carta náutica, que, é claro, não é perfeita). Paranóico como eu estava depois do acidente, eu desviava de todos. De quebra, desviei de muitas sombras provocadas apenas por nuvens de passagem.

 

Depois de alguns sustos, finalmente deixamos o banco no começo da tarde e colocamos alguns milhares de metros entre a quilha do Bedouin e o fundo do mar. Que conforto saber que não há nada em que se possa bater o fundo.

 

(Luperón, 11/07/2012)

Deixamos o estaleiro

 

Por volta das cinco da tarde do dia 7 de julho, sábado, soltamos as amarras e deixamos Caicos Marina and Shipyard. Cruzei o sinuoso canal de entrada devagar, sem certeza que estava tudo bem com a direção. Saímos sem problemas.

 

Do lado de fora ventava bastante e o mar estava todo encarneirado. Andei para um lado e para outro, testando o motor, o leme, o piloto automático. Tudo parecia em ordem. No fim da tarde, ancorei protegido por uma pequena ilha, logo a oeste da entrada da marina onde estávamos.

 

(Luperón, 11/07/2012)

Fotos de Luperón

 

Nem sempre uma imagem vale mais que mil palavras, mas, desta vez, elas chegaram na frente, ao menos. As fotos de Luperón já estão aqui.

 

A descrição de como chegamos aqui será publicada aqui em breve (não percam - bem mais aventurosa que a maioria das minhas travessias, embora menos que o quase naufrágio).

 

(Luperón, 10/07/2012)

República Dominicana


Estou na República Dominicana, numa cidade chamada Luperon, desde ontem à tarde.  Muiiiiiiiiito interessante. E a vinda até aqui também não foi tediosa. Começa com o motor voltando a apresentar problemas que apareceram depois do quase naufrágio e, supostamente, haviam sido corrigidos em Provo. Segue-se uma velejada que varou a noite e uma entrada em Luperon, uma enseada cheia de veleiros ancorados, só na vela (sem motor) e com o guincho de âncora quebrando na última hora. Emoção é o que não faltou.  Aguardem os próximos posts.

 

(Luperon, 10/07/2012)

Comments

Discussion closed
  • Nerton (Friday, July 06 12 05:35 pm EDT)

    Soares, com muito orgulho que estamos do nosso antigo chefe....que os bons ventos possam te levar e te trazer de volta....Nerton e Celso Clemente

  • Claudia Cappelli (Monday, July 09 12 02:34 pm EDT)

    Oi Alexandre, cá estou eu te acompanhando...adorei você dizendo "que o Bedouin deveria estar feliz. Não acredito que um barco goste de ficar suspenso em cima de uns palitos, como ele estava". Muito
    legal!!!. Você tirou foto da Bárbara? Bota aí para gente conhecer seu anjo da guarda... Bem agora vamos de volta ao mar!!! bjs.

  • Katia Oliveira (Tuesday, July 10 12 07:05 pm EDT)

    Adorei Luperon!! Lembra, de certa forma, aquela praia que fomos nos arredores de Caracas. Me parece um ótimo lugar para fazer amigos. Parabéns, rapazes!! Mais um capítulo na estória do Bedouin.

Já está chegando a hora de ir

 

Desde quarta-feira o Bedouin está de volta à água. Deve estar feliz. Não acredito que um barco goste de ficar suspenso em cima de uns palitos, como ele estava.

 

O motor está funcionando bem, agora (depois que tivemos de trocar o motor de arranque e o alternador). Desmontei, eu mesmo, a direção hidráulica, para economizar uns trocos. O mecânico abriu o cilindro, substituiu as juntas e eu remontei tudo. Enchi todo o circuito de fluido, novamente, e parece que está funcionando bem e sem vazamentos. Enquanto esperávamos o conserto do leme, fiz, eu mesmo, consertos diversos. Troquei uma bomba de água e o triturador de esgoto, ambos queimados na "inundação", a chave geral que direciona a carga do barco para um dos três bancos de baterias, uma "bóia" que aciona a bomba de porão quando a água começa a se acumular, limpei os eletrodos das baterias e os terminais, que estavam cheios de oxidação, por causa da água salgada e repus umas ferragens do guincho de âncora que tinham quebrado.

 

Hoje, chamamos os oficiais da Imigração aqui e fizemos o "check-out". Agora, temos até domingo para ir embora.

 

(Provo, 6/07/12)

 

Comida do Brasil!

 

Outro dia, estava falando com a Kátia pelo Skype e ela me contou que tinha feito uma moqueca. Fiquei com água na boca.

 

Ontem, comprei coentro no super-mercado e um peixe, numa banca na beira da estrada. Com leite de côco, que comprei nas Bahamas e o azeite de dendê e a farinha de mandioca que vieram de uma loja de brasileiros em Miami, fiz uma moqueca. Não ficou tão boa quanto a da Kátia, mas deu para matar a saudade.

 

(Provo, 6/07/12)

 

Quem precisa caminhar?

 

Renato comprou uma bicicleta. Como eu já tinha uma bike dobrável, que eu comprei pela Amazon, quando ainda estava em Key Biscayne, me preparando para a travessia para as Bahamas, agora não dependemos mais de carona.

 

Inauguramos a bicicleta nova pedalando até Grace Bay, na noite de quinta-feira e tomando uma cerveja no Danny Buoy's.

 

(Provo, 6/07/12)

 

Meu anjo da guarda existe, e o nome dele é Bárbara

 

Saímos do estaleiro caminhando para Grace Bay. Já contei aqui que é uma longa caminhada, de mais de uma hora, e que, por isso, em geral a gente espera algum dos funcionários sair do estaleiro e pede uma carona. Só que já era tarde, a maioria já tinha ido embora e os que ficaram resolveram não ir tão cedo...

 

Tínhamos caminhado uns vinte minutos quando um carro se aproximou, vindo, como nós, da direção do estaleiro. Fizemos sinal, pedindo carona, e o carro parou. A motorista era uma senhora negra, na casa dos cinqüenta e muitos anos. Se apresentou como Bárbara.

 

Bárbara nasceu em South Caicos (não muito longe de onde aconteceu o acidente com o Bedouin). Aos dezesseis anos, foi para as Ilhas Virgens Britânicas para fazer faculdade. Já com o diploma na mão, mudou-se para Nassau, nas Bahamas, onde deu aula por alguns anos e conheceu seu marido. Ele também era de Turks and Caicos. Juntos, moraram nos Estados Unidos por mais de vinte anos, em pequenas cidades em diferentes estados (minha memória já não é tão boa que eu lembre os nomes). Quando ela e o marido se separaram, Bárbara voltou para Turks and Caicos, só que, dessa vez para Providenciales.

 

Bárbara nos deixou na porta do supermercado aonde íamos, em Grace Bay, embora, descobri quando nos despedíamos, seu destino original era bem outro. Ela deveria ter virado à direita na estrada principal (Leeward Highway), mas saiu do seu caminho por uns três quilômetros (seis, ida e volta), para nos deixar no lugar onde queríamos ir.

 

Fomos ao supermercado e ao Jimmy's Bar. Tomamos umas cervejas e saímos. Fomos caminhando em direção ao estaleiro, mas torcendo para um jitney passar, para nos poupar da longa caminhada. Nada. Os jitneys se deram uma folga, naquela noite.

 

Caminhávamos pelo acostamento, no escuro. O Renato me contava que, quando se preparava para dar a volta ao mundo, conheceu uma menina que já tinha feito essa viagem. Ela disse a ele: "Cara, vou te dizer uma coisa que parece maluquice, mas quando a gente resolve fazer uma viagem doida como essa, as coisas sempre acabam dando certo, de um jeito ou de outro. Na hora da maior dificuldade, aparece um anjo da guarda e salva a situação". Ele acabou de contar a estória e um carro parou no acostamento, uns quinze metros à nossa frente. Era a Bárbara.

 

Mais uma vez, ela saiu totalmente do seu caminho para nos levar até a porta do estaleiro. Agradeci muito e ela respondeu: "You are very welcome". Adoro isso na língua inglesa, de adverbiar o que seria no nosso "de nada". Nós temos um "muito obrigado", mas não temos um "muito de nada". É uma pena...

 

Bárbara, se dissessem que você é minha anja da guarda eu acreditaria. Até carinha de anjo você tem.

 

(Provo, 6/07/12)

 



Levaram nosso carro

 

Paul, o segurança que emprestava o carro para a gente, desapareceu. Por mais que a gente pensasse, não conseguia imaginar uma escala que justificasse a ausência dele por tanto tempo. Outro dia, íamos à cidade fazer compras e ninguém saía do estaleiro, para nos dar uma carona. Resolvemos ir andando mesmo. Dá mais de uma hora de caminhada. Andamos uns dez minutos pela estrada, quando um carro vindo em sentido contrário parou e buzinou. O motorista abriu o vidro, botou a cara para fora e acenou, com um sorriso escancarado. Era o Paul. Como eu não reconheci o carro que eu já dirigi quatro vezes?

 

Paul perguntou aonde estávamos indo. Ele disse: "Eu estou indo para o estaleiro, mas não vou demorar lá. Se vocês quiserem me esperar, eu levo vocês". Voltamos com ele. Ele nos contou que tinha sido demitido, sem nenhuma explicação. Não pude deixar de me solidarizar. Já passei por essa situação e sei como é desagradável.

 

Voltamos com ele para o estaleiro, esperamos uns dez minutos, enquanto ele ia ao escritório e ele nos levou até a Do It, loja que tem tudo para casa. Foi só quando estávamos indo para a loja que descobri o que eu tinha achado diferente no carro. Ele tinha trocado o para-brisas! O vidro do carro dele era todo estilhaçado, e agora estava inteiro, embora, evidentemente, não fosse novo (tinha selos de licenciamento, começando por 2007).

 

Me despedi desejando, de coração, que ele arranjasse logo um novo emprego.

 

(Provo, 6/07/12)

Mergulho em West Caicos

 

Mergulhamos em West Caicos hoje. Bom mergulho. Tubarões, lagostas, king crabs. Água clara e quente.

 

As fotos estão aqui

 

(Provo, 01/07/12)

Entrevista à CBN

 

Nossa entrevista na rádio CBN foi ao ar hoje às 9:00. Quem perdeu pode conferir aqui

 

Para ouvir, é preciso clicar no botão de play, no lugar indicado pela seta verde, na imagem ao lado.

 

(Provo, 30/06/2012)

Cinto de Segurança

 

Uma das recomendações que o Vilfredo fez foi a de sempre usar cinto de segurança (que prende o tripulante a um cabo esticado a bordo, e impede que ele caia no mar). Ele contou para a Kátia que muitos acidentes acontecem quando o sujeito vai fazer xixi para fora do barco, ao invés de descer para o banheiro e cai no mar.

 

Vilfredo tem razão. Já ouvi essa mesma recomendação várias vezes. Apesar disso, só usava cinto quando o mar estava indócil, mesmo quando eu estava velejando sozinho. Prometi à Kátia que passaria a usar sempre que estivesse andando pelo convés, e só tiraria no cockpit.

 

Isso me causou um dilema, na minha presente situação. O barco está num estaleiro, sobre suportes no chão. Preciso usar o cinto mesmo aqui? Tá certo que estou a cinco metros do solo, e uma queda vai machucar, mas é bem improvável que balance... Deveria ter definido os termos da minha promessa com mais cuidado (se eu fosse advogado, isso não teria acontecido).

 

Kátia, me libera da promessa por uns dias?

 

(Provo, 28/06/12)

Vilfredo Schurmann

 

Kátia foi apresentada por uma amiga em comum ao Vilfredo, da Família Schurmann. Eles jantaram juntos em São Paulo e ele foi simpaticíssimo. Falou dos projetos novos deles, fez uma série de recomendações para mim e deu várias dicas (que a Kátia me repassou num longo email). Depois disso, trocamos uns emails e ele, mais uma vez, colocou-se a disposição para me ajudar. Achei super-legal. A primeira vez que passou pela minha cabeça sair pelo mundo de veleiro foi quando li o primeiro livro deles, "Dez Anos no Mar", muitos anos atrás.

 

Vilfredo é mais um a confirmar aquilo que escrevi aqui, poucos dias atrás, falando a respeito do Bob, dono da South Side Marina, em Provo: existem pessoas mal-humoradas e antipáticas em qualquer atividade, mas é raro encontrá-las no mar. As que tenho conhecido são, em geral, bem-humoradas, felizes, gentis e solidárias.

 

Vejam o site deles em http://www.schurmann.com.br/familiaaventura/familia_aventura.asp

 

(Provo, 28/06/12)



Novas fotos

 

Vejam as fotos do acidente em Turks and Caicos aqui



Demos uma entrevista para a rádio CBN

 

Acabamos de conversar com as jornalistas Fabíola Cidral e Pétria Chaves sobre a viagem do Bedouin. A entrevista vai ao ar no sábado, 30/06, as nove da manhã, no programa Caminhos Alternativos, da rádio CBN.

 

Para os poucos entre nós que conseguem acordar cedo no sábado...

 

Link do programa: http://cbn.globoradio.globo.com/programas/caminhos-alternativos/CAMINHOS-ALTERNATIVOS.htm

 

(Provo, 27/06/12)

Os pseudo-táxis de Provo (2)

 

Precisei vir duas vezes a Provo para descobrir esta instituição dos pseudo-táxis. Foi necessário voltar uma terceira vez para descobrir que eles têm nome: chamam-se jitneys.

 

(Provo, 27/06/12)

 

No estaleiro

 

Os dias no estaleiro se esticam. Enquanto consertam o leme, o motor e pintam o casco, nós também fazemos reparos diversos no barco e faxinas diárias.

 

Dormimos a cinco metros do chão e subimos a bordo por uma escada encostada a boreste, já que o barco está no seco, apoiado em suportes. Nunca tivemos uma ancoragem tão tranquila. Não balança nada. Em compensação, os mosquitos não dão trégua. É preciso "tomar banho" de repelente antes de ir deitar.

 

O estaleiro é longe de tudo. Na única vez que não conseguimos carona nem jitney para voltar de Grace Bay caminhamos mais de uma hora. Assim, ficamos por aqui o dia todo e só vamos à cidade no fim da tarde. Em geral, dá para conseguir uma carona com algum funcionário do estaleiro indo embora (isso quando o segurança não empresta o carro!).

 

Faz calor demais para cozinhar no barco, na hora do almoço. Comemos num quiosquezinho mantido por uma moça da República Dominicana, junto com os policiais que nos resgataram e os funcionários da marina. Sai barato, mas são poucas opções (como galinha com arroz e feijão umas três vezes por semana). O escritório da Polícia Marítima fica aqui dentro do estaleiro. Como já estamos aqui desde quinta-feira passada, já deu para ver que o ritmo de trabalho deles não é exatamente frenético. Aparentemente, eles não saem em patrulha. Só deixam o cais quando são demandados (o que quase nunca acontece). Me sinto menos mal por tê-los feito nos rebocar. Demos alguma diversão para os pobres policiais entediados.

 

(Provo, 27/06/12)