Os posts estão em orderm cronológica inversa
(todo mundo sabe que só em blog "os últimos serão os primeiros")
O processo de compra
Depois de ter visto cerca de uma dezena e meia de barcos em dois dias, eu estava realmente enamorado do Bedouin. Ofereci cerca de 90% do preço pedido pelos compradores e deixei a roleta rodar. Para “fazer a aposta”, é preciso depositar 10% do valor oferecido como sinal, em uma conta garantida (escrow account). Os proprietários disseram que aceitavam a proposta. A resposta veio no dia do meu aniversário (30 de novembro). Encarei como um presente e brindei com Kátia para comemorar.
Próximo passo: a inspeção por um perito (que se chama “marine survey”, nos Estados Unidos). Contratei um “surveyour” em Jacksonville – um capitão aposentado da Marinha americana. O surveyour examina o barco, parado na marina, dá uma volta com ele e o avalia navegando a vela e a motor e, depois, suspende o barco na marina (às custas do possível comprador: eu) e examina tudo o que fica abaixo da linha d’água (casco, quilha, leme, hélice). O relatório deste trabalho indicou que o barco tinha um estado de conservação “acima da média” e que tinha um valor de mercado um pouco maior que o que eu tinha oferecido.
Diante do resultado, resolvi ficar com o barco. O que se faz em seguida? Assina-se um documento em que você diz que pretende comprar o barco (“acceptance of yacht”). A partir daí, o sinal que você deu está comprometido e, se você desistir, fica com os vendedores.
Daí para a frente, se você resolve mesmo ficar com o barco (espero que sim!), o trabalho é só fazer a transferência no banco (não o subestime! pode ser chato...). O corretor já deve ter lhe oferecido o trabalho de um despachante. Uma vez pago, o barco estará no seu nome e a documentação pronta em questão de dias.
Escolhendo...
Comecei entrando nos vários sites de venda de barcos usados nos Estados Unidos. O mercado brasileiro é muito pequeno, e os barcos são bem mais caros aqui. O que descobri muito rapidamente: a imensa maioria dos barcos a venda estão prontos para uma velejada agradável num fim de semana, mas a anos-luz de uma travessia longa ou de serem usados como um lar. Depois de ver centenas de anúncios, me interessei por um barco em Jacksonville, Florida.
Marina, minha filha que acaba de fazer dezoito anos, estuda em escolas americanas desde os sete anos, quando moramos em Cingapura. Está, agora, terminando a high school (o ensino médio do currículo americano), e decidiu fazer faculdade nos Estados Unidos. Marina fez uma pesquisa prévia e combinamos visitar juntos algumas universidades americanas para que ela chegasse à lista final de escolas às quais ela se candidataria.
Abre parenteses: Não existe um “vestibular” unificado nos EUA. Existem provas padrão, como o SAT (scholastic assessment test) e o ACT (American college testing), aplicadas no país inteiro, e mesmo fora dele (Marina fez no Brasil). O aluno que termina o ensino médio (high school) deve candidatar-se às suas instituições de preferência, apresentando o resultado dos testes unificados (SAT/ACT), suas notas na escola, mas também atendendo às diversas exigências específicas (redações, questionários, cartas de recomendação e entrevistas) das diferentes faculdades ou universidades. Candidatar-se a uma instituição de ensino específica dá muito trabalho. Daí a necessidade de saber claramente para onde se deseja ir. Fecha parenteses.
Aproveitando o feriado de 15 de novembro, eu e Marina fomos aos Estados Unidos e fizemos um “tour” das universidades, super corrido, mas divertidíssimo. Depois de uma semana frenética de “campus tours”, “information sessions” e aulas assistidas pela Marina (dessas eu não participava), Marina voltou para o Brasil e eu voei para Jacksonville. Vi uns cinco ou seis barcos (inclusive o Bedouin) além daquele que tinha originalmente me interessado. Aluguei um carro em Jacksonville e desci dirigindo até Miami. Lá, visitei outra meia dúzia de barcos à venda que, em linhas gerais, atendiam meus requisitos.
De todos, o Bedouin foi meu barco favorito. Por que? Pergunta menos fácil do que parece. Respostas tentativa: porque procurava um barco para ser meu lar e ele já era o lar de alguém (um casal morava no barco há anos). Resposta tentativa dois: Porque queria um barco de cruzeiro (e não de navegação costeira, como a maioria) e esta era a estória recente do Bedouin (este casal tinha descido do nordeste dos EUA para a Florida, e de lá velejado para as Bahamas). O resultado disso é que eu conseguia me imaginar morando no barco (tinha cara de casa – era a casa de alguém!). E também era fácil me imaginar viajando no barco (que vinha sendo usado para viagens). Era um barco velho (bom! dentro da faixa de preço que eu procurava – um barco novo equipado do mesmo jeito acabaria com o meu orçamento de dois anos!). Não foi o barco mais bonito que eu vi, nem, certamente, o mais ágil ou veloz. Mas gostei dele. Pareceu confortável, sólido e, principalmente, pareceu confiável. Uma grande vantagem se pensar que seríamos só eu e ele nos próximos anos. E era, sem dúvida, extremamente bem cuidado, o que poderia me economizer muito dinheiro a frente!