O nome do barco

Por que Bedouin? Resposta simples: porque este já era o nome dele quando o comprei. É claro que eu poderia ter rebatizado o barco. Resolvi não fazê-lo por várias razões.


Gosto do nome Bedouin pela imagem que evoca. O beduíno é o homem do deserto, cruzando esta enorme extensão ondulada de areia que expõe sua beleza e esconde seus perigos, entre um oásis e outro. A comparação com o marinheiro cruzando o mar, ao mesmo tempo fascinante e ameaçador, e tendo a alegria de avistar uma ilha, onde o esperam comida, sombra e água fresca, é inevitável. É uma bela metáfora.


Gosto da palavra. Bedouin, mesmo sendo uma palavra em inglês, soa e se escreve parecido nas línguas latinas (bédouin, em francês; beduino, em espanhol e italiano; beduíno em português). Gosto do fato de ser um nome que, sem tanto esforço, mesmo os que falam apenas sua própria língua conseguem intuir o que significa. Também é útil que seja uma palavra fácil de entender, mesmo numa comunicação por rádio – nem sempre com o som ideal.


Kátia brinca que pareço um beduíno. Não chega a ser verdade, mas entendo o que ela quer dizer. Metade da minha herança genética vem do Porto, em Portugal, cidade dos meus avós maternos. O Porto esteve sob domínio mouro por mais de cento e cinquenta anos, do ano 711 ao ano 868 depois de Cristo. Com a expectativa de vida da época, faça as contas de quantas gerações isso significa. A influência destes árabes do norte da África é perceptível na arquitetura, nas muitas palavras em português começadas com “al” e nos tipos físicos. Minha avó era loura e tinha olhos azuis, mas meu avô era moreno e dele herdei os cabelos escuros, o nariz grande e as sobrancelhas grossas. Esse é o meu legado árabe.


Existe uma superstição entre marinheiros que diz que dá azar mudar o nome de barcos. Na verdade, várias crendices explicam detalhadamente o que é preciso fazer para rebatizar um barco sem atrair a má sorte. Eu não sou nada supersticioso, mas já que eu gosto mesmo do nome, porque arriscar? Yo no creo en brujas, pero...